Alheira grelhada
Ao almoço, a mãe italiana diz ao filho:
- Se não comeres a sopa toda, eu mato-te.
A mãe judaica diz:
- Se não comeres a sopa toda, eu mato-me.
A anedota é contada por Elena Loewenthal, num artigo do “La Stampa” (03-09-2010) sobre o livro de Giuliana Ascoli Vitali-Norsa, “La cucina nella tradizione ebraica” [“A cozinha na tradição hebraica”] (Ed. La Giuntina, 416 páginas). Lido aqui.
Como se sabe, a Bíblia está cheia de regras alimentares, o que levou os judeus (os cristãos aboliram-nas) a usar toda a criatividade na cozinha de modo a não faltarem ao texto bíblico. “(…) Foram justamente os vínculos que atraíram a fantasia e despertaram o talento da dona de casa que, destrincando-se nessa selva de proibições, soube criar nos quatro cantos do mundo não uma, mas milhares e diversas cozinhas judaicas, ricas de sabores e de perfumes”, diz Elena Loewenthal.
“A comida hebraica é, de fato, tão delimitada pelas proibições quanto capaz de se difundir na geografia física e humana: em todos os lugares em que chegou, a diáspora de Israel absorveu usos, sabores e ingredientes. Os judeus da Europa Central, exterminados pelo nazismo, alimentavam-se com bortsch [sopa de beterraba] e guisados, gengibre e a inevitável gelatina de pé de vitelo com ricas doses de alho”.
Em Portugal é inevitável pensar nas alheiras, aqueles enchidos feitos de carne de galinha (ou de outras aves), mas com temperos tão apurados que se assemelham aos enchidos de porco – o que era óptimo para enganar a Inquisição no teste da prova de carne de porco.
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