quinta-feira, 29 de julho de 2010

Uma coisa que Saramago fez religiosamente

O uso da linguagem religiosa para outros fins que não o religioso é sempre interessante e estimulante. Leia-se o início deste artigo de um jornalista espanhol: "A Igreja Católica ficaria surpreendida ao saber que Saramago, durante toda a sua vida, fez algo religiosamente. (...) Saramago pagou religiosamente os seus impostos".

E se se tratasse da Associação Ateísta de Portugal? "A Associação Ateísta de Portugal congratula-se em saber que o senhor fulano de tal fugiu ao fisco sem fé nenhuma" (sem fé, quem? o faltoso ou o fisco?). Ou "o sr. X não cumpre as suas obrigações ateisticamente". Ou "cumpre com todo o ateísmo a sua não participação na vida colectiva".

Espero que a AAP (não sei se é este o nome correcto) não me processe por causa de conotar ateísmo com irresponsabilidade. Mas é que não dá para cumprir deveres com fervor ateu. Quer dizer, dar, dá. E é o que acontece com algumas pessoas. Mas não fica tão bem em letra de forma.

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