sábado, 17 de julho de 2010

17 de Julho de 1566. Morre em Madrid Frei Bartolomeu de las Casas

Bartolomeu de las Casas (Sevilha, 1474) estudou em Salamanca e terminou os estudos em Roma, onde foi ordenado padre em 1507, já depois de ter participado numa viagem às Américas, em que, como qualquer outro colonizador, explorou os nativos.

Em 1510, regressou a “Ilha Espanhola”, como missionário. No ano seguinte, converteu-se à causa da defesa da dignidade dos indígenas, após ouvir um sermão do dominicano Frei António de Montesinos:

«Todos vós estais em pecado mortal. Nele viveis e nele morrereis, devido à crueldade e tiranias que usais com estas gentes inocentes. Dizei-me, com que direito e baseados em que justiça, mantendes em tão cruel e horrível servidão os índios? Com que autoridade fizestes estas detestáveis guerras a estes povos que estavam em suas terras mansas e pacíficas e tão numerosas e os consumistes com mortes e destruições inauditas? Como os tendes tão oprimidos e fatigados, sem dar-lhes de comer e cura-los em suas enfermidades? Os excessivos trabalhos que lhes impondes, os faz morrer, ou melhor dizendo, vós os matais para poder arrancar e adquirir ouro cada dia... Não são eles acaso homens? Não tem almas racionais? Vós não sois obrigados a amá-los como a vós mesmos? Será que não entendeis isso? Não o podeis sentir?»

Depois de várias aventuras na América Latina (incluindo a tentativa de criar uma comunidade sem escravos num território dado por Carlos V na actual Venezuela, por volta de 1520, que acaba com a revolta dos índios e a morte dos colonos – o que faz Bartolomeu entrar para os dominicanos em 1522), é nomeado Bispo de Chiapas (México) em 1544. A ordenação é em Sevilha. Antes disso já escrevera a obra “Brevíssima relação da destruição das Índias”, denunciando a violência dos conquistadores.

Em Chiapas, com 70 anos, continua a sofrer a pressão dos espanhóis, pelo que regressa à Europa, passados três anos, para não mais voltar às Índias Ocidentais.

Em Espanha, tem como único objectivo a defesa jurídica dos indígenas, participando em debates com teólogos e políticos. Em 1550, numa disputa com Juan-Ginés de Sepúlveda, em Valladolid, afirma:

“Os índios são nossos irmãos pelos quais Cristo deu sua vida. Por que os perseguimos sem que tenham merecido tal coisa, com desumana crueldade? O passado, e o que deixou de ser feito, não tem remédio; seja atribuído à nossa fraqueza, sempre que for feita a restituição dos bens impiamente arrebatados (...). Sejam enviados aos índios pregoeiros íntegros, cujos costumes sejam espelho de Jesus Cristo (...). Se for feito assim, estou convencido de que eles abraçarão a doutrina evangélica, pois não são néscios nem bárbaros, mas de inata sinceridade, simples, modestos, mansos e, finalmente, tais que estou certo que não existe outra gente mais disposta do que eles a abraçar o Evangelho...”

Las Casas morreu em Madrid, no dia 17 de Julho de 1566.

O dominicano ainda não é santo da Igreja Católica, embora seja venerado principalmente no Brasil, México e Espanha. O processo de beatificação está em curso. É certo que não defendia a dignidade dos africanos, que por essa época começam a ser importados como escravos, como defendeu a dos nativos americanos. Mas foi um grande pioneiro dos direitos humanos, quando o mais comum era a cruz aliar-se à espada na conquista de novos territórios.

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