Que cesse toda a vingança, todo o apelo ao castigo e à retribuição. Os crimes ultrapassaram toda a medida, todo o entendimento. Há mártires de mais...
Não meças os seus sofrimentos segundo os pesos da tua justiça, Senhor, e não ponhas estes sofrimentos na conta dos carrascos para lhes extorquir uma tremenda factura. Que sejam retribuídos de outra forma. Inscreve em favor dos algozes, dos delatores, dos traidores e de todos os homens de má-fé, a coragem, a força espiritual dos outros, a sua humildade, a sua dignidade, a sua luta interior constante e a sua invencível esperança, o sorriso que secava as lágrimas, o seu amor, os seus corações despedaçados que permaneceram firmes e confiantes face à própria morte, sim, até aos momentos da mais extrema fraqueza...
Que tudo isso seja deposto perante ti, ó Senhor, para o perdão dos pecados, resgate para o triunfo da justiça; que o bem seja contado e não o mal! Que fiquemos na memória dos nossos inimigos não como as suas vítimas, não como um pesadelo, não como espectros atados aos seus passos, mas como sustentáculos do seu combate para destruir o furor das suas paixões criminosas. Nada mais lhes pedimos.
E quando tudo isto tiver terminado, dá-nos de viver, homens entre os homens, e que a paz regresse à nossa pobre terra.
Paz para os homens de boa vontade e para todos os outros.
Oração anónima, escrita em yiddish (língua usada pelos judeus da Europa Central que mistura hebraico, alemão e línguas eslavas), encontrada no campo de concentração Auschwitz-Birkenau
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