terça-feira, 15 de junho de 2010

Felicidade. O quê? Onde? Como?

A mais bela história da felicidade
André Comte-Sponville, Jean Delumeau e Arlette Farge
Texto & Grafia
146 páginas

Um historiador perito em história da Igreja Católica e das mentalidades, uma historiadora especialista no Iluminismo e um filósofo ateu falam da felicidade, essa ditadura do tempo presente, o misterioso Graal que o ser humano persegue, mas que não deixa de permanentemente se esquivar. Jean Delumeau, André Comte-Sponville e Arlette Fargue respondem às questões de Alice Germain.

O que é a felicidade? Epicuro dizia que era o que se alcançava com uma rigorosa dieta (prescrição controlada) de prazeres. Os estóicos abominavam o prazer e substituíam-no pela virtude moral. Cálides, o adversário de Sócrates, dizia que ser feliz consiste em satisfazer as paixões, os desejos, mesmo os mais loucos. Como os desejos são um poço sem fundo. Sócrates abominava tal ideia. Mas Kant não. Para o iluminista, a felicidade está em satisfazer os desejos e as propensões.

Para uns, é a vida em família; para outros, a solidão. Aproveitar a sorte e o que a vida nos dá? Construir e conquistar, numa atitude prometaica? Empurrar a pedra para cima do monte sem reparar no absurdo e imaginar-se feliz, como Sísifo? Há quem tome a felicidade por divertimentos – critica Pascal. Está no ter? Êxito profissional, reconhecimento social, relação amorosa, saúde, honra, bens? Está no ser? Que ser? “Façamos a experiência, como Pascal convida a fazer”, conta Comte-Sponville. “Instalemo-nos no nosso quarto, permaneçamos lá vinte e quatro horas sem fazer nada, e veremos que o simples facto de ser não chega para a felicidade, mas leva, pelo contrário, ao tédio, à angústia, à insatisfação, à tristeza… A felicidade não está no ter mas também não está no ser. Está no agir: o homem só pode usufruir verdadeiramente daquilo que faz. A única felicidade humana é uma felicidade em acto, uma felicidade na acção” (pág. 44).

A religião fornece igualmente “a sua pedra para o edifício”, colocando a felicidade no centro das suas preocupações. Felicidade nesta vida? Felicidade fora desta vida? No Éden, Paraíso, Jardim das Delícias? Mas a ideia de paraíso evoluiu. A felicidade secularizou-se. Para o cristianismo, o inferno não são os outros. O paraíso é reencontrarem-se uns com os outros e com o Outro.

A felicidade tornou-se um dever. “Ser é poder aceder à felicidade; existir é obrigar-se a ser feliz”. Diz-se que a felicidade não está nas posses (êxito, dinheiro, beleza), mas nas disposições (serenidade, tranquilidade, harmonia). Mas ninguém leva a sério. “O paradoxo dos nossos tempos modernos consiste em inventar uma felicidade «interior» e propor sempre mais prazeres para consumir e produtos para supostamente ser feliz” (pág. 14).

O segredo da felicidade está no fazer-se da felicidade. “A felicidade não é o fim do caminho, mas o próprio caminho”. “A felicidade não é um sossego, mas um esforço bem sucedido ou um fracasso superado” (pág. 141).

Este livro a três vozes tem história, filosofia, teologia e bom senso comum. Não é um manual nem um livro de auto-ajuda. Mas ajuda a esclarecer. E nisto todos concordam: não há felicidade sem sabedoria.

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