quinta-feira, 10 de junho de 2010

Adolf von Harnack num discurso de tristes consequências de Bento XVI

Bento XVI em Regensburg, 12 de Setembro de 2006

Bento XVI, no célebre discurso de Ratisbona (ou Regensburg) que incendiou a rua muçulmana, falou de Adolf von Harnack. Era um discurso dirigido a universitários que abordava as três ondas de deselenização da teologia cristã. Por deselenização entenda-se a tentativa (para o Papa, em parte indevida) de retirar da fé cristã os elementos provenientes da filosofia grega, ou da cultura grega antiga em geral. No fundo, separação da binómio fé/razão.

A primeira dessas ondas deu-se com a Reforma protestante. Com o sola Scriptura, os protestantes procuraram a “pura forma primordial da fé”.

A segunda onda foi protagonizada por Adolf von Harnack. Escreve o Papa: “Como ideia central temos, em Harnack, o regresso ao Jesus meramente homem e à sua mensagem simples, que viria antes de todas as teologizações e, concretamente, antes das helenizações: tal mensagem simples constituiria o verdadeiro apogeu do desenvolvimento religioso da humanidade. Jesus teria deixado de lado o culto em favor da moral. Em última análise, Ele é representado como pai duma mensagem moral humanitária. O objectivo de Harnack é fundamentalmente trazer o cristianismo à harmonia com a razão moderna, libertando-o precisamente de elementos aparentemente filosóficos e teológicos, como, por exemplo, a fé na divindade de Cristo e na trindade de Deus”.

A terceira onda de deselenização da fé cristã dá-se nos dias de hoje, no contexto do encontro de cultura, da teologia missionária e da multiculturalidade, quando se afirma que o “a síntese realizada na Igreja Antiga com o helenismo teria sido uma primeira inculturação, que não deveria vincular as outras culturas”.

O discurso do Papa, sobre “fé, razão e universidade”, pode ser lido aqui.

2 comentários:

Roder Rock disse...

Sobre seu comentário:

Claro que a biografia dele após sua ascensão na igreja católica foi maquiada após o fim da guerra. Veja aqui as desculpas e tentativas de desconstrução da verdade no site inglês, isso já diverge do que você acredita ou diz...

http://atheism.about.com/od/benedictxvi/i/RatzingerNazi_2.htm

- Mas vá lá, tem outro site do fan clube do Ratzinger que admite ele ter participado sim:

http://www.ratzingerfanclub.com/Ratzinger_faq.html

Lá diz: (as aspas são minhas)
"Como seminarista", ele foi "brevemente inscrito" na Juventude Hitlerista, em 1940, "embora ele nunca foi membro do partido nazista." ("claro ele ainda não tinha idade para tal, além do que ser da juventude nazista não era obrigatório!"
Em 1943, ele foi recrutado em uma unidade antiaérea guardando uma fábrica da BMW nos arredores de Munique ("já era até soldado!") Mais tarde, Ratzinger "foi enviado para a fronteira da Áustria com a Hungria para construir armadilhas de tanque". Depois de ser enviado de volta à Baviera, ele deserta. Quando a guerra terminou, ele era um prisioneiro de guerra dos americanos."

Voltei:
- Como percebe, usam até "brevemente inscrito" como se isso fosse possível, primeira vez que leio isso; "uma breve inscrição"?

Ele de "jovem nazista", passou a soldado, diz que desertou no fim da guerra, mas virou prisioneiro no fim da guerra... foram 4 anos a serviço do nazismo e até ao fim da guerra já era soldado de posição importante.

Eu pergunto:
- Você não vai negar também que o Papa da época fazia a saudação nazista e dava a mão para Hitler beijar. Ou vai?

- Sem dizer da vergonha de Hatzinger e seu irmão ocultarem durante mais de 30 anos a pederastia e abusos contra crianças nas suas barbas. Um homem inteligente como ele o é, não tem o direito de dizer que não sabia. É uma afronta à inteligência coletiva do mundo.

Abraços.

Jorge Pires Ferreira disse...

Caro amigo,
ele até podia ter sido um nazista convicto - com aquela idade.
Se eu tivesse a idade dele e nas circunstâncias dele, não sei se teria feito diferente. E você também não.
Você estaria contra a maioria do seu povo? Contra o ambiente dominante? Julga que os soldados alemães eram todos anti-semitas? Contra a doutrinação que faziam na escola sobre a humilhação que a Alemanha sofreu após a I Guerra Mundial?
A tragédia no nazismo foi isso mesmo, uma tragédia e ilusão colectiva. Muitas boas pessoas acreditaram no nazismo e só depois da guerra souberam do Holocausto.
Por outro lado, deve saber que o pai do actual Papa sofreu na pele o facto de não ter simpatias pelo nazismo. Sendo polícia, teve de mudar várias vezes de terra e não progrediu como poderia ter progredido por, de facto, não ser do partido.
Mas não duvide que Joseph Ratzinger, como teólogo, muito tem feito para a aproximação entre cristianismo e judaísmo, entre judeus e cristãos. Tem abundantes escritos publicados sobre isso. Mas provavelmente é mais falso ler sites apologéticos, do que ler o que os próprios implicados pensam e escrevem...

Aliás, do ponto de vista da religião católica, que professo, não faz qualquer sentido haver uma oposição entre judaísmo e cristianismo. Eu olho para o judaísmo como uma dimensão muito importante da minha fé e da minha pessoa.
De resto, você faz acusações falsas sobre Ratzinger e o irmão, que reconheceu ter dado umas bofetadas, ao algo do género, há umas boas décadas. Tome cuidado quando fala das outras pessoas. Sendo judeu ou simpatizante, como penso que é, deve lembrar-se do oitavo mandamento.

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