Helena Matos, no “Público” de 1 de Abril, escrevia que “a sucessão de notícias sobre os casos de pedofilia na Igreja Católica torna a história de Sara de Matos muitíssimo actual”. Contextualizando: A sepultura de Sara de Matos (morreu em 1891), no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, foi durante muito tempo local de peregrinação de republicanos (da I República Portuguesa). A jovem, interna de um colégio de jesuítas, morreu aos 14 anos, vítima de dois crimes: violação por um jesuíta e envenenamento por uma freira, que teria procurado camuflar a violação. Helena Matos diz que não faz ideia sobre quem teve ou não culpa da morte de Sara de Matos. E escreve:
“Tenho para mim que as violações, abusos e os crimes mais hediondos podem acontecer em qualquer meio seja ele laico ou religioso e não vejo portanto que o clero católico ou doutra fé goze duma qualquer superioridade que o torne imune a estes actos. Do que já faço alguma ideia é de que a reacção perante a pedofilia e os abusos sexuais varia em função do perfil de quem a ela é ou foi associado como responsável: se for cineasta terá abaixos-assinados de apoio; se for político os seus pares podem levar a protecção institucional até à alteração de leis de modo a que os casos sejam arquivados; se for um cidadão comum será provavelmente recebido por multidões em fúria à porta do tribunal e caso seja agredido na cadeia toda a gente achará que isso faz parte do código de honra dos presos (donde se presume que quem administra as cadeias não tem um código de honra que lhe imponha impedir que os detidos se agridam uns aos outros). Se for padre é imediatamente dado como culpado. Não menos importante, segundo este raciocínio, o actual Papa foi e é responsável por esses crimes”.
E o artigo da página 37 (acessível on-line apenas por assinatura) termina: “Portugal não ganhou nada com a expulsão dos jesuítas ou das outras ordens. Mas é importante perceber que o anticlericalismo é na Europa (como noutros locais o é o fundamentalismo religioso) um poderoso cimento ideológico quando faltam ideais e ideias à República. Coisa que manifestamente aconteceu no início do século XX e acontece nos dias de hoje”.
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