A oposição dos jesuítas ao espírito da “Enciclopédia” é um aspecto curioso da história da Igreja e da cultura. Na realidade, entre os jesuítas dos séculos XVII e XVIII, até serem suprimidos enquanto congregação pelo Papa Clemente XIV (em 1773), tanto havia quem defendesse o aristotelismo (via tomismo) como quem se correspondesse com Fermat, Huygens, Leibniz e Newton. Estavam os astrónomos e naturalistas mais proeminentes e os filósofos e teólogos mais fixistas e, em certo sentido, retrógrados. Os modernos e os tradicionalistas.
Jonathan Wright dedica um capítulo do livro “Os Jesuítas. Missões, mitos e histórias” à “Ciência Jesuíta”. Diz muito mais do que o que vou citar, mas fiquemos por este pedaço (pág. 224-225):
“A ciência jesuíta nem sempre fora popular. Quando Cristóvão Clavius supervisionou a mudança para o calendário gregoriano, em 1582, os Jesuítas foram apedrejados em toda a Europa por multidões que culpavam a Companhia pelo furto de dez dias que lhes tinham sido «roubados» em nome do rigor astronómico. Por vezes, as aptidões científicas dos jesuítas – Bartolomeu de Gusmão fez figura de tolo quando procurou demonstrar o voo em balão de ar quente diante da corte portuguesa, em 1709 (desceu de uma torre com elegância, mas revelou-se menos capaz de voltar a subir e conseguiu até incendiar parte do palácio do rei) – mas as dezenas de observatórios, farmácias e estações meteorológicas dirigidos por jesuítas, na Europa e para lá dela, eram acréscimos bem-vindos na paisagem científica do século XVIII.
Por que motivo, então, seria tão fácil para os polemistas do século XVIII atacar os Jesuítas de forma tão patológica e institucionalmente oposta ao academismo digno e rigoroso? Parte da resposta reside nos desafios lançados pelos dois séculos anteriores de empreendimento científico e pelo modo como os Jesuítas reagiram a eles – ou, mais precisamente, como se percebeu que eles reagiram”.
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