De facto, na conjuntura das últimas décadas de oitocentos vemos os factores que conduziram ao declínio da monarquia: uma economia profundamente desajustada ao processo de industrialização europeu, fortemente marcada por actividades comerciais; uma pesada dívida externa; uma debilitada presença ultramarina, colonial e imperial; uma crescente instabilidade devido a tensões urbanas; a militância por novos valores e nova sociedade.
O confronto ideológico não apareceu repentinamente. Provinha do liberalismo. Foi-se radicalizando. Começa por apelar à cidadania, passa pelo sistema democrático, chega à agitação revolucionária.
Os olhares críticos lançavam compreensões da realidade seja decadentistas, motivadas pelo crónico atraso nacional, seja saudosistas, justificando perspectivas de restauração nacional ou de regeneração. O poder político arrastava o País para a decadência.
Na base das aspirações republicanas havia correntes de cientismo, positivismo e espiritualismo. Os diversos movimentos sociais e as diferentes soluções correspondiam a distintas percepções.
É no final da década de 70 que o republicanismo se autonomiza, deixa em segundo plano o movimento social operário e opta pela propaganda e agitação política, actuando entre a conquista do poder pelo processo eleitoral e a conspiração militar. A instauração da República correspondia à valorização de um paradigma assente na realidade regeneradora, protagonizada pelos sectores sociais urbanos em ascensão.
A agitação de grupos e a crescente propaganda era ambiente para a revolta do Porto a 31 de Janeiro de 1891, considerada geralmente como primeira tentativa de revolução republicana.
As fragilidades internas, o desgaste do sistema rotativo e a crise da autoridade conduziram à ditadura, fora do controlo parlamentar. A alternativa de sucessivos governos, com base demasiado fragmentada, cria a decomposição da autoridade política. Neste contexto aconteceu o regicídio (Fevereiro de 1908) e as forças republicanas conquistavam espaço e organizavam a revolta de 5 de Outubro de 1910.
Veremos, a seguir, como entrou a Igreja na mira da revolução.
D. Carlos Azevedo, Bispo Auxiliar de Lisboa
Fonte: CM
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