Crónica de Joaquim Letria no jornal “24 horas” de 1 de Janeiro de 2010.
As virtudes do silêncio
Desde que a Igreja acabou com a solene cultura do latim que a qualidade oratória dos seus sacerdotes se despenhou de tal modo que hoje, quase 50 anos depois, se mantém uma imparável trajectória descendente. Os grandes pregadores de outros tempos brilham pela ausência. Os sermões raramente são atractivos.
A sublime colaboração da música sacra deixou de ser desejada e estimada e os coros e os órgãos de sons majestosos foram condenados ao silêncio, quanto muito, cedendo lugar a umas infelizes guitarras paroquiais.
Deus é omnipresente, mas chega melhor e está com outra profundidade na companhia de Haendel, Mozart e Schubert. O sacerdote não pode ser tu cá, tu lá, com os fiéis, porque cada um tem o seu papel e a respectiva marcação. A distância está certa e é desejável.
Sem a boa música nem a riqueza da palavra, a Igreja devia dar-se mais às virtudes do silêncio, que tem a sua própria grandiosidade. Antes a reflexão profunda e a oração sentida do que a falsa alegria pimba da ilusória camaradagem jovem.
Tenho saudades dum serviço religioso com a palavra justa e a voz medida dum sacerdote que nos prenda a cada homilia.
Agradeço a Fernando Correia de Oliveira o envio deste texto.
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