sábado, 5 de dezembro de 2009

Igreja e Berlusconi: troca muito míope

Ezio Mauro, director do diário italiano “La Repubblica”, dá uma entrevista ao “Público”, conduzida por Alexandra Prado Coelho. A "Itália é uma democracia que perde em qualidade todos os dias", diz. Hoje é “No Berlusconi Day” em Itália e em mais uma série de locais, incluindo a lisboeta Praça Luís de Camões.

Da entrevista (páginas 18 e 19 na edição em papel ou aqui na edição digital), retenho especialmente a parte final. Fala-se do relacionamento da Igreja com a facção política de Berlusconi e de uma troca de valores e ideias que convém aos dois. Uma "troca muito míope".


Público - E a Igreja, que posição adopta perante todos estes escândalos?

Ezio Mauro - A Igreja enfrenta dificuldades já há algum tempo. Um país que é considerado naturalmente cristão (é assim que se fala de Itália, como se fosse uma coisa que estivesse na nossa natureza), esse país é cada vez mais autónomo em relação à Igreja, sobretudo na moral quotidiana, na vida sexual, nos hábitos e comportamentos. Um país de baptizados, mas muito menos de praticantes e de crentes.

E, num momento em que se sente mais fraca, a Igreja agarra-se a esta direita forte que lhe promete políticas muito convenientes, em relação à vida, à bioética, à fecundação artificial, à escola católica, à legislação pela família, não favorável aos homossexuais, às uniões de facto. Em troca dos favores legislativos que recebe desta direita a Igreja dá-lhe o seu apoio - a uma direita que é pagã, na minha concepção, e sobretudo que paganizou o país através das suas televisões, do seu conceito de moral pública. Parece-me, por isso, que faz uma troca muito míope, de conveniência imediata.

Por seu lado, a direita, que não soube criar um sistema de ideias novo, toma emprestadas as ideias fortes do património da Igreja. É uma troca que convém aos dois.

E que vai continuar?

Sim, acredito que continue, mas com algumas dificuldades. O comportamento de Berlusconi e os escândalos deste Verão [que envolvem festas com prostitutas na residência do primeiro-ministro] criaram um forte mal-estar nas bases católicas. Há, por isso, um risco de um descolamento entre a hierarquia católica e as bases.

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