Amei a mulher amei a terra amei o mar
amei muitas coisas que hoje me é difícil enumerar
De muitas delas de resto falei
Não sei talvez eu me possa enganar
foram tantas as vezes que me enganei
mas por trás da mulher da terra e do mar
pareceu‑me
ver sempre outra coisa talvez o senhor
É esse o seu nome e nele não cabe temor
Mas depois deste sonho sou obrigado a cantar:
Eis que o senhor está neste lugar
Porquê não sei talvez uma pequena haste balance
talvez sorria alguma criança
Terrível não é o homem sozinho na tarde
como noutro tempo de esplendor cantei
Terrível é este lugar
Terrível porquê? Não sei bem
Talvez porque o senhor pisa esta terra com os seus pés
(lembro‑me até de que mandou tirar as sandálias a moisés)
Levanto os dois braços aos céus
Aqui – mulher terra mar –
Aqui só pode ser a casa de deus
Ruy Belo
In Todos os Poemas. Lisboa: Assírio & Alvim, 2000. p. 209‑210.
Este poema faz parte do espectáculo "Breve Sumário da História de Deus", que o TNSJ leva à cena a partir de amanhã.
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