"S. Jerónimo", de Albrecht Dürer
Em Belém (Palestina), o tradutor da Bíblia para latim, a Vulgata, tem conhecimento da tomada de Roma pelos visigodos de Alarico e escreve esta página magnífica. Julgava eu, erroneamente, ter sido provocada pela queda definitiva do Império. Mas não. Nessa altura já Jerónimo (347-420) tinha morrido. Refere-se ao saque de 24 de Agosto de 410.
“De uma só vez, vieram anunciar-me a morte de Pamáquio, de Marcela, a tomada de Roma, a morte de um grande número de irmãos e irmãs. Fiquei consternado, transtornado, assombrado. Dia e noite, não pensava noutra coisa, julgava-me prisioneiro com eles, com aqueles santos. Queria conhecer melhor aqueles acontecimentos, dividido como estava entre a esperança e o desespero. Eu assumia a minha quota-parte de cruz nos males do próximo. Mas quando a gloriosa luz do mundo se extinguiu, quando foi tomada a capital do nosso Império, quando nesta única cidade foram o universo inteiro e a civilização que pereceram, então “eu calei-me humilhei-me, não conseguia pronunciar uma única palavra e a minha dor fez-se mais viva; o meu coração exaltava-se e, enquanto eu meditava, um fogo se acendia nele”. (…)
Tudo tem um fim; os séculos transcorridos estão para sempre acabados e é uma verdade que aquilo que começa deve perecer, tudo aquilo que cresce conhece a decrepitude e a morte. Não há obra criada que a velhice não ataque e não faça desaparecer. Mas Roma! Quem podia pensar que, edificada com as vitórias alcançadas sobres o mundo inteiro, viria a ruir, transformando-se no túmulo dos povos de que tinha sido a mãe? Todas as costas do Oriente, do Egipto, da África estão agora cheias dos seus filhos, escravos fugitivos. Quem diria que Belém, a santa, iria receber todos os dias, com mendigos, homens e mulheres outrora nobres e ricos? Ai! Não podemos socorrê-los a todos, mas ao menos choramos com eles, misturamos as nossas lágrimas com as deles”.
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