Anselmo Borges escreveu no DN de ontem (aqui) sobre ética e religião. Em resumo, o dilema “os mandamentos são bons porque Deus os prescreve ou Deus prescreve-os porque são bons?” não faz muito sentido porque, como afirmou Andrés Torres Queiruga, se se pensar fundo, "não existe nada que no nível moral deva fazer um crente e não um ateu, contanto que tanto um como o outro queiram ser honestos". A religião autêntica, contudo, deverá constituir mais um impulso para a acção ética.
O colunista termina o seu texto com um excerto da carta que Edward Kennedy enviou ao Papa, pouco tempo antes de morrer, e que o cardeal Th. McCarrick revelou no funeral do senador.
“Santidade, espero que ao receber esta carta goze de boa saúde. Rezo para que tenha todas as bênçãos de Deus na condução da nossa Igreja e inspire o mundo nestes tempos difíceis. Escrevo-lhe com profunda humildade para pedir-lhe que reze por mim, agora que a minha saúde declina. Foi-me diagnosticado um cancro no cérebro há mais de um ano e, embora continue em terapia, o mal continua a minar-me. Tenho 77 anos e preparo-me para a passagem seguinte da vida. Tive a graça de ser membro de uma família maravilhosa, e os meus pais, em particular a minha mãe, mantiveram a fé católica no centro das nossas vidas. O dom da fé manteve-se, cresceu e deu-me alívio nas horas mais escuras. Sei que fui um homem imperfeito, mas com a ajuda da fé procurei endireitar o caminho. Quero que saiba, Santidade, que nos quase 50 anos de serviço público, dei o meu melhor para embandeirar os direitos dos pobres e abrir portas de oportunidades económicas. Trabalhei para receber os imigrantes, combater a discriminação e ampliar o acesso aos cuidados médicos e à educação. Procurei sempre ser um católico fiel, Santidade, e embora as minhas debilidades me tenham feito falhar, nunca deixei de crer e respeitar os ensinamentos fundamentais da minha fé. Rezo para que Deus o abençoe a si e à nossa Igreja e agradeceria muito as suas orações por mim".
Sem comentários:
Enviar um comentário