“Pode imaginar-se que, para um ateu, todo o imenso esforço de pregação das diversas religiões que se sucederam sobre a Terra seja comparável a uma obra de desinformação”, escreve Vladimir Volkoff, no início da análise sobre a Igreja e a desinformação (páginas 43-36 de “Pequena História da Desinformação”, da Editorial Notícias).
Volkoff considera que para haver desinformação têm de estar presentes três elementos:
- uma manipulação da opinião pública (senão seria intoxicação);
- fins políticos, internos ou externos (senão seria publicidade).
- processos ocultos (senão seria propaganda).
Estes elementos estão presentes na acção da Igreja?
1.º Elemento. Está presente. O missionário, como São Paulo em Atenas, dirige-se à opinião pública. Quer convencê-la.
2.º Elemento. Os objectivos dos missionários não são políticos. Embora essas preocupações por vezes estejam presentes.
3.º Elemento. Os processos não são ocultos. “O pregador não se disfarça para atingir a opinião pública, antes pelo contrário. Recusando navegar sob bandeira falsa, opera com o uniforme dos paramentos sacerdotais, pelo que não pode ser confundido com um franco-atirador. Mesmo quando utiliza estratagemas de jesuíta, ele não esconde o seu desígnio essencial, que é ad majorem Dei gloriam”. O velho padre de província de Unamuno que, crendo no cristianismo como um bem para o povo, o ensina devotamente mesmo já não acreditando nele, não é um desinformador. Falta-lhe a máscara”.
Contudo, Volkoff aponta “casos particulares”. O primeiro é o aproveitamento de reflexos adquiridos do paganismo, como o baptismo de solstícios e equinócios, fontes e montanhas… Esta prática assemelha-se a técnicas de desinformação. “Será curioso imaginar o encontro entre a espoliada ninfa e o santo ao qual a fonte passou a ser consagrada”, sugere. O segundo tem a ver com as calúnias a que as seitas, confissões e igrejas recorrem após os cismas. O investigador até nem refere os exemplos mais elucidativos: o que na Igreja católica se disse dos reformadores e o que estes e os seus seguidores disseram da Igreja romana.
Volkoff conclui: “Tudo bem medido, as operações de propaganda ou de retenção da informação religiosa não se podem realmente assemelhar à desinformação propriamente dita: os objectivos são demasiado evidentes”.
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