sábado, 4 de julho de 2009

Harry Potter é baptizado


Recentemente foi notícia o recuo da Igreja na nomeação de um padre austríaco para bispo. O padre era polémico por dizer que os livros do Harry Potter são satânicos ou que o furacão Katrina foi um castigo de Deus à cidade de New Orleans. Se em relação ao segundo assunto a visão do padre austríaco era inaceitável, em relação ao primeiro, não sendo original, revelava desconhecimento profundo dos livros, pelo menos é o que se conclui da leitura do artigo de Suzanne Bray intitulado “Da boa utilização da literatura fantástica”, no mais recente número da “Communio – Revista Internacional Católica”. “Os romances da série Harry Potter não são explicitamente cristãos”, escreve Suzanne Bray, mas J. K. Rowling “serve-se da imagética cristã”, além de inúmeras alusões à mitologia clássica e à alquimia. Mais: “Ela [a autora de Harry Potter] afirma-se cristã e praticante. Os seus filhos foram baptizados, e fez também baptizar o filho que criou, Harry”, acrescenta. "Rowling confirmou, na Feira do Livro de Edimburgo, em Agosto de 2004, que Harry foi baptizado à pressa numa cerimónia privada", afirma Bray. No entanto, "não tem madrinha".

Suzanne Bray sugere que a literatura fantástica, nomeadamente os livros e filmes de Harry Potter, O Senhor dos Anéis e As Crónicas de Nárnia, é útil para os educadores cristãos: “Em geral, Harry e os seus amigos não ultrapassam os obstáculos que encontram por meio da magia, mas sim graças à perseverança, à lealdade e à coragem", refere leiga anglicana e professora no Instituto Católico de Lille. "Escusado será dizer que a educação cristã deve, num ou noutro momento, integrar uma apresentação clara e sem ambiguidade do kerigma. No entanto, para aquele que já encontrou e compreendeu Aslan, Harry Potter e o Gandalf, o sacrifício de Cristo não será um conceito estranho. Do mesmo mesmo, aquele que seguiu as histórias de Edmund e Eustáquio em As Crónicas de Nárnia aceitará mais facilmente a conversão de um ser amado, ou até a sua”, prossegue.

Excelente número este, sobre “Imaginários Contemporâneos”, para o sempre necessário diálogo fé/cultura, com artigos, entre outros, de Michael Devaux (“Itinerarium imaginationis ad Deum. Viagem a Númeror com os Inklings), Tolentino Mendonça (“A Bíblia e o fantástico”), Olivier Riaudel (“Prescindir do mito e da desmitologização”), Carlos Salema (“O gato de Schrodinger”) e Antonio Sapadaro (“Second Life. O desejo de uma outra vida”).

Só há doze bispos no mundo. São todos homens e judeus

No início de novembro este meu texto foi publicado na Ecclesia. Do meu ponto de vista, esta é a questão mais importante que a Igreja tem de ...