A “Centesimus Annus” (“Ano Centenário”, CA) é a penúltima carta papal dedicada exclusivamente à doutrina social. É de 1991, de João Paulo II. Foi escrita para comemorar os 100 anos da inaugural “Rerum Novarum”, de Leão XIII.
Como quase sempre nos documentos papais, também na CA o Papa olha primeiro para o passado, para a seguir falar do presente e do futuro. João Paulo II afirma que da encíclica leonina brota “seiva abundante” que se torna “mais fecunda com o decurso dos anos” e relê a história mundial do último século, centrada na Europa, para chegar ao ano admirável de 1989.
Não é sem emoção que o Papa escreve sobre o ano da Queda do Muro de Berlim e das revoluções democráticas nos países da Europa Central e de Leste. “Os factos de 1989 oferecem o exemplo do sucesso conseguido pela vontade de negociação e pelo espírito evangélico, contra um adversário decidido a não se deixar vincular por princípios morais (…). É certo que a luta, que levou às mudanças de 1989 exigiu lucidez, moderação, sofrimentos e sacrifícios; em certo sentido, nasceu da oração, e teria sido impensável sem confianças ilimitada em Deus, Senhor da história, que tem nas suas mãos o coração dos homens”.
Os acontecimentos de 1989 têm grandes consequências sociais e económicas (além de políticas) porque implicam a “reorganização radical das economias” dos países de Leste, até então colectivizadas. João Paulo II pede ajuda aos países ocidentais (CA, 29) e reconhece que o “mercado livre”, isto é, o capitalismo, “parece ser o instrumento mais eficaz para dinamizar os recursos e corresponder às necessidades” (CA 34), ainda que nem tudo seja comercializável.
A CA encerra um arco documental que vai da “questão operária” e da filiação dos trabalhadores em organizações de tipo comunista à dissolução das economias centralizadas, as quais surgiram como reacção ao capitalismo típico do tempo da questão operária mas em países onde, por paradoxal que seja, não havia verdadeira revolução industrial. O fim dos sistemas comunistas (1991 é o ano da dissolução da URSS) não significa, é claro, que acabem as questões a que a doutrina social quer responder. O mercado livre tem limitações e a CA vai apontá-las.
A primeira frase
“O Centenário da promulgação da Encíclica do meu predecessor Leão XIII de veneranda memória, que começa com as palavras «Rerum Novarum», assinala uma data de importância relevante na história presente da Igreja e também no meu pontificado” (CA 1).
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