quarta-feira, 22 de julho de 2009

DSI 20: "Populorum Progressio" - 2

A pobreza combate-se com educação

Jean-Yves Calvez, padre jesuíta e teólogo francês, especialista em doutrina social da Igreja, afirmou recentemente ao jornal “Público”, a propósito da "Populorum Progressio", que "toda a gente" imaginava na altura da sua publicação que era uma questão de "curto prazo" acabar com a miséria.

Porém, “toda a gente falhou: economistas, políticos, todos os que se implicaram na questão do desenvolvimento nos anos 50-60. Imaginavam que, com uma política monetarista e meios financeiros, se poderia elevar o nível de toda a população que tínhamos deixado ao abandono no tempo colonial", afirmou em 2007, quando se comemoravam os 40 anos da PP (lançada a 26 de Março de 1967).

Já em 2008, num congresso em Roma para comemorar o documento papal, alertou-se para o fracasso das ajudas exteriores para promover o desenvolvimento. Uma investigação sobre um programa de hospitais rurais no Chade revelou que apenas 1 por cento do dinheiro foi gasto nos projectos dos hospitais. E foi dito, também, que 40 por cento dos gastos militares africanos é involuntariamente financiado pelas ajudas. “As ajudas recompensam as elites governantes naqueles países nos quais essas mesmas elites mantêm os seus povos na pobreza. As ajudas tornam mais provável o facto de o governo incompetente, corrupto ou brutal sobreviver, porque as ajudas proporcionam recursos com os quais as elites governamentais podem aliviar alguns dos problemas internos provocados por governos pobres e injustos”, afirmou na ocasião Philip Booth, do Institute of Economic Affairs de Londres.

Não chega ajudar. É preciso que a ajuda chegue ao sítio certo e incida nas actividades e pessoas certas, a começar pela alfabetização e pela família. Paulo VI aponta o caminho: “Pode mesmo afirmar-se que o crescimento económico depende, em primeiro lugar do progresso social que ela [a alfabetização] pode suscitar, e que a educação de base é o primeiro objectivo dum plano de desenvolvimento. A fome de instrução não é menos deprimente que a fome de alimentos: um analfabeto é um espírito subalimentado. Saber ler e escrever, adquirir uma formação profissional, é ganhar confiança em si mesmo e descobrir que pode avançar junto com os outros”.

Desta encíclica ficaram para a história meia dúzia de frases de Paulo VI que mostram a perspectiva cristã do desenvolvimento. Acho que fazem parte da cultura geral católica:

* “Fiz-me, na ONU, o advogado dos povos pobres” (4)
* “O desenvolvimento não se reduz a simples crescimento económico. Para ser autêntico, deve ser integral, quer dizer, promover todas as pessoas e a pessoa toda” (14)
* O desenvolvimento é um “dever pessoal” e “comunitário” (15-17)
* “O dever de solidariedade é o mesmo, tanto para as pessoas como para os povos” (48)
* “O supérfluo dos países ricos deve pôr-se ao serviço dos países pobres” (48)
* “O mundo está doente. O seu mal reside mais na crise de fraternidade entre as pessoas e entre os povos” (66)
* “O desenvolvimento é o novo nome da paz” (76)
* Cristãos e não-cristãos são convidados “a trabalharem, de todo o coração e com toda a sua inteligência, para que todos os filhos dos homens possam levar uma vida digna de filhos de Deus” (82)
* “Se o desenvolvimento é o novo nome da paz, quem não deseja trabalhar para ele com todas as forças?”

Só há doze bispos no mundo. São todos homens e judeus

No início de novembro este meu texto foi publicado na Ecclesia. Do meu ponto de vista, esta é a questão mais importante que a Igreja tem de ...