domingo, 25 de agosto de 2013

António Borges: A Doutrina Social da Igreja é "muito inspiradora"

António Borges (1949-2013)

Excerto de uma notícia da Agência Ecclesia, em 25 de fevereiro de 2013 (daqui):
O economista António Borges considera que a Doutrina Social da Igreja é “muito inspiradora” para o momento de crise que se vive em Portugal. 
Após a conferência que fez, este sábado, em Castelo Branco, sobre o tema ‘Gestor e Católico, um duplo desafio de responsabilidade social’, o economista e professor da Universidade Católica Portuguesa disse à Agência Ecclesia que existe “uma consciência cada vez maior” que os temas de responsabilidade social e justiça social são “centrais à política económica”.
O antigo diretor do Departamento Europeu do Fundo Monetário Internacional defende que ser gestor e católico em simultâneo “é possível e dá outra qualidade à gestão”.

3 comentários:

Helena V. disse...

Peço desculpa, Antº Jorge, mas nem o respeito pela memória de António Borges me impede de reagir. As minhas palavras incidem sobre o que entendo pelo que seja a Doutrina Social da Igreja e não sobre a pessoa de António Borges, cuja morte, evidentemente muito lamento. Nesse sentido, é público, sobejamente conhecido, tudo o que significa para a vida das pessoas, para a justiça social e o equilíbrio na distribuição de recursos e de bens (do nível micro ao macro)aquilo que decorre da lógica e da acção de instituições financeiras como o FMI (de que AB foi número dois) e, sobretudo, a Golden Sachs (de que AB foi vice-presidente). Não entendo, portanto, de que forma AB considerava a DSI inspiradora. Talvez se conhecesse a conferência em que tal afirmação foi feita, compreendesse... De qualquer forma, daquilo em que acompanhei o discurso de AB, fico muito curiosa sobre como terá sustentado esta ideia de a DSI lhe ser inspiradora.
Pergunto-me se para uma política de privativatização de setores nevrálgicos para a vida das pessoas (AB era o consultor deste governo para as privatizações e renegociações das Parcerias Público-Privadas...). Quanto à PPPs, ficamos à espera das ditas "renegociações", sabendo, de antemão, muito bem o quanto os "renociadores" e seus amigos (da família do bloco central)ficariam a perder com elas... Se acaso o AB se viesse verdadeiramente a deixar inspirar pela DSI e a ter a coragem de enfrentar tais interesses... Ficamos sem saber, mas gostaria de ter assistido a isto. Enfim, é a vida: todos deixamos obra por fazer, seja por falta de tempo, seja por omissão. Abraço

HD disse...

Pessoalmente lamento a morte anunciada de António Borges,( como lamento profundamente a de outros portugueses, em especial os que deram recentemente a sua vida nos incêndios, por ex )
Fico atónito quando se diz que AB, seria católico…Um homem que se diga de Cristo, não pode apoiar o liberalismo económico, como receita para a humanidade, como AB preconizava…Vale a pena reler esta notícia de há 1 ano atrás sobre AB- o homem que acreditava na “ditadura iluminada”…
Não se criem mitos , pfv…

“Expresso 12 junho 2012

…António Borges é especialista em frases infelizes Em 2004, numa entrevista ao Expresso foram várias de rajada.(...)
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/quando-antonio-borges-achava-que-um-secretario-de-estado-nao-conseguia-viver-com-3500-euros=f731545#ixzz2d4nJyN2p

Helena V. disse...

Olá, Jorge. Deixo uma entrevista da BBC a António Borges, em 2010.
É um documento interessante e muito esclarecedor, pela forma como o entrevistador conduz a entrevista, pelas perguntas certeiras que coloca.
Penso que, mais do que nunca, é forçoso conhecermos bem aquilo de que falamos quando nos posicionamos favorável ou desfavoravelmente em relação ao chamado "liberalismo económico" e muito (demasiado!) financeiro.
Acho que não será preciso muito mais: é ouvir bem esta entrevista (a 2ª parte, de forma particular), conhecer minimamente a DSI e confrontar as duas visões subjacentes. Feito isto, não vejo, realmente, como se poderá alguma vez defender que a DSI é inspiradora duma tal concepção da organização económico-financeira e social do mundo.
http://www.youtube.com/watch?v=aeZiZuwGwBo
http://www.youtube.com/watch?v=FG4zzcNSH_0
http://www.youtube.com/watch?v=ll-S5qmYHvY
Que António Borges se dissesse católico, com certeza. Mas, como tantos dos que assim nos dizemos sem que sejamos inteiramente consistentes com essa autodenominação, é admissível que, no caso de AB também houvesse enviesamentos, incoerências. Não só não julgo essa parte, obviamente, como não me escandaliza em absoluto. Somos o que somos sempre na nossa fragilidade e bastante cegueira. Mas pronuncio-me, naturalmente, quanto às ideias que perfilhou, demarcando-me e lamentando que assim tenha sido. E, se não demonizo ninguém por causa das suas ideias, também me choca a exaltação dessas mesmas ideias, na altura da sua morte, apenas porque a pessoa em causa se disse católico (e ninguém nega que tenha feito o seu caminho de sentido...) e porque diz inspirar-se na DSI para pensar como pensa. Ora, se, manifestamente, como o demonstram tantos documentos (esta entrevista é um deles), a incompatibilidade é absoluta, eu só posso reagir. Fi-lo começando por estranhar esta "exaltação" que tu preconizaste, Jorge. E continuo a reagir, procurando aprofundar a justeza do que seja a afirmação (que nos dias que correm, entendo ter que ser categórica) da profunda incompatibilização do que se passa hoje no mundo em termos económico-financeiro e social (acrescento também ecológico) com a DSI.
E, atenção: as "sociais-democracias" no norte da Europa baseiam-se num sistema estatal altamente regulador de todos os setores da vida económica e social. Existem é numa sociedade em que as pessoas, por acreditarem no Estado, não prevaricam (tanto, pelo menos, como no sul) nem se "encostam" à previdência que dele emane. É comum, ouvir-se os cidadãos suecos ou holandeses dizer que pagam e pagam de bom grado os impostos... Tudo é mais complexo do que aquilo que umas meras etiquetas fazem parecer, Jorge. Há mesmo que aprofundar. E discutir, debater. Falta-nos isso. Infelizmente.

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