sábado, 9 de março de 2013

Sobre a dita aparição mariana de Bento XVI


Na era supostamente científica, acho incríveis os episódios de crença popular que são uma espécie de epifenómenos religiosos, de sucedâneos, talvez. O que está a acontecer na Venezuela, com a canonização do ditador (pode não ter sido formalmente um ditador, porque não aboliu nem manipulou as eleições, mas modificou a lei para se perpetuar no poder e perseguiu a imprensa, que, mesmo que seja má, é sempre um sinal das sociedades livres), merece reflexão.

Outro episódio de que só há momentos tive conhecimento e que é capaz de começar a fazer o seu percurso viral: diz-se que Bento XVI, um Papa tão pouco mariano, teve uma aparição mariana para renunciar. Este boato – pelo menos para mim assim é – está a fazer as delícias dos meios católicos mais tradicionalistas, que, até prova em contrário, o inventaram, pois é deles que vem a história.

Sem o dizerem abertamente, largos setores católicos ficaram profundamente desgostosos com a decisão de Bento XVI. A suposta aparição mariana (a renúncia aconteceu no dia de Nossa Senhora de Lourdes, 11 de fevereiro, mas o texto foi assinado no dia 10) canoniza a decisão de Bento XVI. Torna-a mais digerível. Haverá sempre gente disposta a acreditar em tudo, seja na política, seja na Igreja.

6 comentários:

Anónimo disse...

...E haverá sempre gente disposta não acreditar em nada...

Jorge Pires Ferreira disse...

Com certeza que sim.

E há outros que acreditam numas coisas e não noutras. E avaliam criticamente aquilo em que se deve acreditar.

Falando com Tomé, Jesus disse para não sermos incrédulos. Mas não pediu para sermos crédulos, mas crentes. É diferente.

Anónimo disse...


A história da aparição, além do mais, mostra desconfiança em relação às razões que o próprio Bispo Emérito de Roma apresenta.

Mas... pouco mariano, Jorge?! Leu os escritos de Ratzinger enquanto Papa? Leu mesmo? Aquilo é ser "pouco mariano"? A sério? Diz isso para irritar alguém? Quer criar uma afinidade forçada com o antigo Papa? Ou quer fazer com ele o mesmo que fazem com João XXIII: afastá-lo de tudo o que ele foi e deixou e inventar um personagem a gosto?

Rui Jardim

Jorge Pires Ferreira disse...

Pouco mariano em comparação com JPII, por exemplo. Claro que todos os católicos são marianos, mas penso que é um dado evidente que Bento XVI não foi um papa mariano, tal como não foi místico, como ele próprio disse, o que não quer dizer que não tenha escrito sobre Nossa Senhora ou sobre os místicos. Em todo o caso, nada justifica a invenção da aparição. A não ser que ele o diga.

Anónimo disse...


Jorge, quanto à aparição estamos conversados: trata-se de um delírio abusivo de quem se recusa a ouvir e tentar compreender os verdadeiros motivos. De resto, é um caso em que o "diz-se" é ridículo. Se Bento XVI não disse a ninguém como é que se diz?
Pouco mariano significa pouco atento e devoto a Maria, mãe de Cristo e mãe da Igreja. É profundamente injusto acusar Bento XVI. Bento XVI, não deve ter deixado de invocar Maria num só documento relevante, e sempre com profunda devoção mariana.


Saudações, Rui Jardim

Rui Jardim

Jorge Pires Ferreira disse...

Ok, Rui Jardim. Há os papas marianos, como Bento XVI, e os supermarianos com alguns outros. Bento XVI é só mariano.

É como no McDonalds, onde só há menus médios e supers. Se perguntar pelo mini, que a terminologia faz supor, não há.

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