quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Missa ateia em Londres

Cerca de 200 “fiéis” participaram na primeira missa ateia, celebrada numa igreja dessacralizada do norte de Londres. A ideia séria partiu dos cómicos Sanderson Jones e Pippa Evans. Li aqui.

Como não conheço estes humoristas, vou ver quem são. São estes. O Jonas tem umas barbas patriarcais. A Eva é a da direita. É preciso dizer isto nestes tempos em que todos podem ser tudo. Jonas é nome bíblico. “Evans” vem de quê? Não deve ser de Eva. De “Evangelist”?


Antes da celebração, Jones disse: “Pensamos que seria uma pena não desfrutar das coisas boas da religião, unicamente por uma discordância teológica”. Ficamos assim a saber que ele deve andar a ler Alain de Botton. E que acha que há somente um “desacuerdo teológico” entre quem diz que Deus existe e que Jesus Cristo é Deus e os que dizem que não só Deus não existe como Jesus não pode ser Filho de Deus.

Penso que a celebração começou com uma dissonância identitária, como muitos casamentos católicos e funerais, em que os ateus lá acabam por entrar na igreja: participaram pela menos uma católica e um judeu.

Os ministros, suponho que os cómicos, mandaram umas piadas e convidaram os “fiéis” (outra vez; fiéis a quê?) a fechar os olhos e “pensar”. Quase lhes descaíam as palavras para “rezar”.

O salmo principal da celebração teve como refrão: “Life is good, life is great" (“a vida é boa, a vida é maravilhosa”), que pode muito bem ter-se inspirado num salmo qualquer cristão, o 8, por exemplo, ou numa marca de eletrodomésticos. Mas compreende-se que se acentuem apenas as coisas boas. Não podiam falar do mal. Os cristãos sabem que o mal é uma constante na história da comunidade e na vida pessoal. Afinal, quando um ateu se arrepende, a quem pede perdão? A quem poderiam as 200 pessoas pedir que lhes perdoassem os pecados? Aos genes? À sociedade? Ao id? Só podem ficar pela maravilha da vida, mesmo sabendo que ela não é só maravilhas.

Imagino que os “fiéis” desta igreja ateia aumentem em número. Eu próprio gostava mais de ir a uma celebração destas do que a algumas que conheço. Refiro-me a seitas.

Assaltam-me, no entanto, algumas questões. Em todas as igrejas há abandonos e deserções. O que acontece quando um ateu abandona a sua igreja? Converte-se? Torna-se um verdadeiro ateu, um neo-ateu, ou entra numa religião mais tradicional?

E quando a deserção for coletiva? Forma-se uma seita ateia? Um Igreja dos ateus dos últimos dias? Igreja universal dos verdadeiros ateus? E, com o tempo, vai surgir um movimento ecuménico ateu para promover a unidade dos ateus?

14 comentários:

Anónimo disse...

E não fazem uma qualquer cerimónia islâmica ateia? É que isto de bater só em que não lhes fará mal é, desde logo, um sinal de cobardia e desonestidade.

maria disse...

"Afinal, quando um ateu se arrepende, a quem pede perdão?"

Caro Jorge, em primeiro lugar à(s) pessoa(s) ofendida(s). Devia ser assim independentemente dos credos. Se o acto não envolve outros (penso que envolve sempre) o reconhecermos as nossas sombras e assumi-lo só nos faz bem. Se depois disto o decidimos fazer num contexto celebrativo, muito bem, mas esse é mesmo o último passo.

Anónimo disse...

Maria: uma coisa é o pecado (e só se ofende a Deus) e outra a ofensa (a Deus ou não). O perdão é para aquele, a desculpa é para este. Não?

Óscar Miranda

Febe disse...

E se o ateu se arrepende de ter prejudicado o ambiente,por ex sujando a praia...como faz?

Peter disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Peter disse...

Caro Óscar Miranda, o pecado é sempre um acto pessoal, mas isso não deixa de ter implicações nos outros e nos espaços onde se move aquele que pecou, ainda que ele tenha sido apenas cometido em relação a Deus! por outro lado, quando há ofensa ao outro, acontece também ofensa a Deus… ou então para que é que dizemos-oramos aquela oração que o Senhor ensinou aos seus Discípulos,,, quando repetimos também: PAI NOSSO…!


Ora, se Ele é NOSSO então é do outro que tem o mesmo Pai que eu invoco… por isso, quando ofendo o outro ofendo a Deus pois ele é um filho d’Ele como eu… por alguma razão nos tratamos por irmãos.. e na relação inversa acontece o mesmo.. ao ofender Deus eu estou a ofender Aquele que é Pai do meu irmão… por isso ofendo o outro que é seu filho como eu… não há forma de escapar a esse envolvimento da Paternidade Divina! Ninguém fica de fora… ao acontecer pecado todo a humanidade redimida está envolvida nisto, não se compartimenta a relação com o Divino embora muitos defendam e vivam isso…!


É claro que isto não anula a relação e a responsabilidade pessoal… (embora alguns julguem que porque foram perdoados totalmente por Deus, ficaram isentos da responsabilidade e das implicações do mal praticado… outra questão muito forte mas adiante!)… e não estou aqui a insinuar algum tipo de “culpa colectiva”… mas, somos ou não somos um CORPO, caro Óscar! Ora, “quando um membro está doente todo o corpo fica doente”!

Peter disse...

Cara Febe, acha mesmo que o "ateu" não possui “valores” e que não tem a capacidade de reparar danos feitos por si! Ou a prática do bem e da reparação do mal é propriedade privada dos crentes! Sou crente e não me imagino a olhar um ateu por esse prisma!

Maria-Portugal disse...

Acho q leu precipitadamente...o q estava em causa era o facto de na lógica anteriormente expendida não haver humanamente a quem pedir desculpa,por ser um colectivo o lesado.

Não achei nada, porque o que escrevi nada tinha a ver com a capacidade de reparação ou prática do bem dos não crentes e ainda muito menos qualquer menosprezo pela pessoa dos ateus,apesar da inversa não ser ,frequentemente, verdadeira.

Devemos analisar com calma e humildade o que se escreve,antes de levantar bandeiras para divergências inexistentes.

Na paz de Cristo nos encontramos.

maria disse...

Bom, o Peter já se adiantou e bem...volto só para referir que o meu comentário era no sentido de não querermos transferir apenas para o perdão celebrativo os nossos actos e atitudes de arrependimento e conversão. E isto nem sequer é exclusivo dos crentes. E me perdoem a largueza de vistas mas "onde estiverem dois ou três reunidos no meu nome eu estarei no meio deles". Explicando: sempre que duas pessoas se encontram no perdão, ou uma pessoa com a profundidade do seu der, eu crente, acredito que Deus está lá.

Peter disse...

Não tinha entendido que se estava a situar noutro contexto, aliás, quase estive para não intervir porque a sua questão me pareceu carregada de ironia e não algo assim tão directo mas que por outro lado também não deixava muito espaço a uma resposta concreta, visto ser em ultima análise um “colectivo” que neste caso seria o(s) “prejudicado”(s) com o acto de “sujar”… e isso é de certa forma seria muito abrangente…! Podíamos também aqui falar de questão da cidadania mas… pronto, lamento o equívoco e a precipitação da minha parte… boa noite..! Caminhando se faz caminho…

Peter disse...

Bom.. dá para entender que falava com a Maria versus Febe.. a mesma alma amada de Deus em dois rostos..risos.. eu bem tento..mas o barro... e as horas já não são para estas andarilhanças…


À outra Maria que cuida do “jardim de luz” grato também e peço desculpa de ter-me adiantado… só depois é que dei conta que a Maria afinal já tinha abordado a questão numa frase apenas e simples :


“Se o acto não envolve outros (penso que envolve sempre)“

Anónimo disse...

Peter, mais uma vez: deixe a sua ignorância, ok? Comente o que sabe, ou cale-se. Em sentido teológico, só se peca contra Deus e só Deus pode dar o perdão. Na dimensão horizontal só se pode dar a desculpa. Ok?

Parabéns, Óscar, pela sua observação.

Peter disse...

Anónimo - 11:09 a.m. quando puder podia-me dar-me o nº de telefone de Deus para eu perguntar-lhe um pouco mais sobre esses assuntos e ficar assim menos “ignorante”!

Peter disse...

Já agora, caro Anónimo, se não é pedir muito, resolva-me lá este imbróglio teológico para não estar a gastar no telefone antecipadamente!


Então se “só Deus pode dar o perdão. Na dimensão horizontal só se pode dar a desculpa.”… podia explicar-me o que anda o padre a fazer no confessionário?!...

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