A nova evangelização. Um desafio para sair da indiferença
Rino Fisichella
Paulus
176 páginas
No dia 29 de março de 2010 – estão quase a completar-se dois
anos – o arcebispo Rino Fisichella foi convocado para uma audiência privada com
Bento XVI. Ao contrário das outras vezes, D. Fisichella não foi avisado quanto
ao assunto da reunião, o que lhe causou alguma intranquilidade, até pelos
inevitáveis “rumores”, “desporto largamente praticado em alguns ambientes”, que
muitas vezes se ouvem acerca de transferências, como relata no início deste
livro.
D. Fisichella conta como foi o encontro com Bento XVI: “Nunca poderia ter pensado, ao sentar-me à frente de Bento
XVI sorridente e contante, que ele textualmente me dissesse: «Andei a pensar
muito nos últimos meses. Desejo instituir um dicastério para a nova
evangelização e peço-lhe que aceite ser o presidente. Posso passar-lhe alguns
apontamentos que tenho feito. O que é que pensa?» Estava muito surpreendido e
apelas lhe disse: «Santo Padre, é um grande desafio». O colóquio continuou com
uma troca de considerações sobre o assunto, até se esboçar a estrutura do novo
dicastério. Saí da audiência muito contente. O temor que levava comigo
transformara-se em entusiasmo” (pág. 6).
O autor acrescenta que, tendo andado nos últimos
trinta anos a estudar, ensinar e escrever sobre como apresentar o cristianismo
ao homem de hoje, sentiu o convite de Bento XVI como uma prova: “Andaste tantos
anos a estudar, agora prova-me que não é só teoria”.
Este livro é uma leitura pessoal de como o presidente do
Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização entende a “nova
evangelização” e serve, no fundo, para preparar o sínodo dos bispos convocado
para outubro de 2012. Como é sabido, o sínodo tem com tema de fundo
precisamente a nova evangelização.
D. Rino Fisichella começa por dizer que prefere a expressão
“nova evangelização” ao termo “reevangelização”. Fazendo uma breve história da
expressão, popularizada por João Paulo II, termina o segundo capítulo
apresentando o que pode ser uma definição: “Uma forma mediante a qual o
Evangelho de sempre é anunciado com novo entusiasmo, novas linguagens e novas
metodologias capazes de transmitir o sentido profundo que permanece
inalterado”.
Nos capítulos seguintes, o arcebispo escreve sobre o
contexto de secularismo, desorientação e crise no mundo ocidental em que a nova
evangelização há de se posta em prática (cap. III), afirma a centralidade de
Jesus Cristo no processo (IV), aponta os lugares da nova evangelização (a
liturgia, a caridade, o ecumenismo, a imigração e a comunicação, cap. V), fala
das perspetivas (o cenário da cultura, a nova antropologia e a missão da
Igreja, cap. VI), dos novos evangelizadores (que são os de sempre: o clero, os
consagrados e os leigos, cap. VII). Os dois últimos capítulos antes da síntese
final do cap. X são dedicados à beleza e à arte (cap. VIII) e ao autêntico "ícone
da nova evangelização" que é a Basílica da Sagrada Família, em Barcelona.
Consagrado
pelo Papa no dia 17 de novembro de 2010, o templo, ainda em construção, sendo
um “catecismo de pedra”, “provoca-nos para ir mais além”, “obriga ao sentido da
transcendência”, “traça o percurso essencial para decifrar o enigma da nossa
condição pessoa”. E isso também é nova evangelização.
Breve história da “nova evangelização”
1979 – No documento de Puebla (dos bispos da América Latina
reunidos nesta cidade mexicana), afirma-se que há “mudanças socioculturais que
exigem uma nova evangelização”.
1979 – João Paulo II, na segunda visita à Polónia, usa pela
primeira vez a expressão.
1983 – João Paulo II, no Haiti, falando aos bispos da
América Latina, convida-os a empenharem-se numa nova evangelização: “Nova no
seu ardor, nos seus métodos e nas suas expressões”.
1990 – Na encíclica “Redemptoris missio”, João Paulo II
afirma que é necessária uma nova evangelização “onde grupos inteiros de
batizados perderam o sentido vivo da fé”.
2010 – É instituído no dia 21 de setembro o Conselho
Pontifício para a Promoção da nova Evangelização.
2 comentários:
Já li bastantes textos deste Rino. Não é grande espingarda...
Ao anónimo anterior,
Este livro não é um romance, e nem me consta que Rino Fisichella escreva romances...
Leia-o... verá que é mais frutífero que mortífero...
P. Campos
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