segunda-feira, 19 de março de 2012

Decrescimento contra a religião do crescimento

No "Público" de hoje vem uma entrevista a Serge Latouche, economista francês que tem vindo a defender o decrescimento económico, que consiste em trabalhar menos, produzir menos, gastar menos e ter o mesmo nível de vida. Parece-me salutar.


Diz o professor da Universidade de Paris XI a certa altura:
O decrescimento é um slogan que fomos forçados a utilizar para romper com o "ramerrão" do discurso desenvolvimentista, que fala em crescimento, crescimento, crescimento e que nos conduzirá a uma catástrofe. Claro que é uma palavra provocadora, polémica... e até blasfema, porque temos uma relação quase religiosa com o crescimento. Podemos mesmo falar de uma religião, um culto do crescimento. Falar de decrescimento cria um efeito de estupefação. Decrescer por decrescer seria absurdo. Mas crescer por crescer é absurdo e ninguém se dá conta disso, porque estamos envolvidos nessa religião.
Aqui encontra-se uma entrevista on line ao professor francês. E aqui um caderno em PDF em que o próprio expõe as suas ideias. Mais estimulante do que simplesmente dizer mais do capitalismo.


Leonardo Boff, no seu blogue, por estes dias, propões algo em consonância:

Há uma ética subjacente à cultura produtivista e consumista (…), a da maximização de tudo o que fazemos: maximizar a construção de fábricas, de estradas, de carros, de combustíveis, de computadores, de celulares; maximizar programas de entretenimento, novelas, cursos, reciclagens, produção intelectual e científica. A roda da produção não pode parar, caso contrário ocorre um colapso no consumo e nos empregos. No fundo, é sempre mais do mesmo e sem o sentido dos limites suportáveis pela natureza. 
(…) Devemos caminhar na direção de uma ética diferente, a da otimização. Ela se funda numa concepção sistêmica da natureza e da vida. Todos os sistemas vivos procuram otimizar as relações que sustentam a vida. O sistema busca um equilíbrio dinâmico, aproveitando todos os ingredientes da natureza, sem produzir lixo, otimizando a qualidade e inserindo a todos. Na esfera humana, esta otimização pressupõe o sentido de auto-limitação e a busca da justa medida. A base material sóbria e decente possibilita o desenvolvimento de algo não material que são os bens do espírito, como a solidariedade para com os mais vulneráveis, a compaixão, o amor que desfaz os mecanismos de agressividade, supera os preceitos e não permite que as diferenças sejam tratadas como desigualdades. 
Talvez a crise atual do capital material, sempre limitado, nos enseje viver a partir do capital humano e espiritual, sempre ilimitado e aberto a novas expressões. Ele nos possibilita ter experiências espirituais de celebração do mistério da existência e de gratidão pelo nosso lugar no conjunto dos seres. Com isso maximizamos nossas potencialidades latentes, aquelas que guardam o segredo da plenitude, tão ansiada.
Ler tudo aqui.

1 comentário:

Afonso disse...

A esquerda ortodoxa contribuiu para este sistema materialista com o seu dogmatismo também materialista.E a esquerda dita alternativa perde-se em temas ditos fracturantes em vez de investir em novas formas de pensar a sociedade e assim conquistar militantes e votos.As elites e seus agentes neoliberais (à esquerda e à direita)aproveitam para sempre avançar mais o consumismo o qual engorda mais os tubarões do sistema e destroi a sociedade.

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