O livro
sobre “Vasco da Gama para estrangeiros”, como alguém escreveu, de Nigel Cliff,
diz que a aventura dos descobrimentos foi uma cruzada, uma guerra santa contra os
muçulmanos.
O
livro intitula-se “Guerra Santa” e em antetítulo tem na capa: “As viagens
épicas de Vasco da Gama e o ponto de viragem em séculos de confrontos entre
civilizações”.
A
tese da guerra santa nos descobrimentos tem sido recebida com alguma surpresa e
como novidade onde o livro tem sido publicado. Mas, na realidade onde está a novidade?
Talvez para ingleses e americanos. Pelo menos do ponto de vista português, não
há surpresa nenhuma. Nos autos de Gil Vicente, autor coetâneo da expansão, os
soldados mortos em combate contra os mouros vão diretamente para o céu, como em
qualquer cruzada. E a ideia do encontro e aliança como reino cristão do Prestes
João é isso mesmo, uma aliança contra o inimigo comum. As cruzes de Cristo nas
caravelas são mesmo cruzes da cruzada. A cruz vai à frente.
Claro
que, com as modas historiográficas - o positivismo, o marxismo, o
estruturalismo… - as motivações económicas ou outras predominam na explicação
dos factos. Mas o mundo dá tantas voltas que a explicação primeira acaba por
vir a cima como se fosse novidade.
Por
outro lado, o livro talvez contribua para acabar com um grande equívoco cultural.
O feito de Vasco da Gama (1498) é incomparavelmente maior do que o de Colombo (1492), embora
na mentalidade anglo-saxónica a descoberta da América esgote a epopeia das descobertas. Mas
o que estava em disputa era chegar à Índia. E foi Gama quem lá chegou primeiro.
Com a ascensão da Índia e da China no campeonato das nações, é
provável que o feito de Gama venha mesmo a sobrepor-se nas mentalidades ao de
Colombo.
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