Da entrevista de António Marujo a Jean-Noël Alleti (autor de
“Voltar a Falar de Jesus Cristo”, ed. Cotovia)
A Igreja deve ter
como prioridade a redescoberta do prazer do texto?
Sim. Actualmente, na Igreja – não entre os tradicionalistas,
que não gostam do prazer de ler, gostam de ideias claras, de dogmas -, há um
movimento de redescoberta do texto, que nos diz algo sobre a humanidade de
Deus.
Qual é a fronteira
entre um exercício como o do seu livro e uma leitura como a dos fundamentalistas,
que pegam numa frase e a lêem descontextualizada?
Creio que um tradicionalista não consegue ler o meu livro. A
fronteira é justamente o que refere: não estar preocupado com os dogmas. É
verdade que acreditamos em Jesus Cristo, mas chegamos a ele tomando o texto
como uma verdadeira narrativa, com densidade humana. Jesus Cristo é sempre
alguém anunciado por outro que viveu uma relação. Infelizmente, não estou
seguro de que os reaccionários sejam sensíveis ao que vivem os outros. Eles
querem dogmas, têm medo dos outros.
No limite, deve perguntar-se se se está disposto a escutar
um outro falando de Jesus Cristo. Não escutar ideias, verdades feitas, mas
alguém que conta como Jesus entrou na sua vida – que é o que fazem os
evangelistas. E assim poderá entrar-se numa relação de escuta e não de
certezas.
António Marujo, “Deus Vem a Público. Entrevistas sobre a
transcendência. I volume” (ed. Pedra Angular), pág. 37-38
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