Um Mundo sem Deus. Ensaios sobre o Ateísmo
Michael Martin (dir.)
Edições 70
424 páginas
Este livro reúne 18 ensaios escritos de especialistas de renome de língua inglesa. O ateísmo é abordado do ponto de vista histórico, psicológico, sociológico e filosófico. Há espaço para os argumentos teístas da existência de Deus, mas o pano de fundo é, sem dúvida, a defesa do ateísmo. E com esta hipótese da não existência de Deus (será sempre hipótese e, como como escreveu Joseph Ratzinger num livro de 1968, quem quiser fugir das incertezas da fé terá sempre de suportar as incertezas da ausência de fé), veiculam-se outras que sem dúvida são polémicas e, tanto quanto se pode observar, não estão a ser suficiente debatidas nos meios católicos ou pelo menos nas faculdades e institutos superiores ligados à Igreja, que disso têm obrigação. Algumas delas: ser feminista exige que se seja ateia; os ateus são mais evoluídos dos que os crentes; os ateus são menos sugestionáveis, menos dogmáticos e menos preconceituosos do que os crentes; os ateus são mais tolerantes, obedientes à lei, compassivos e conscienciosos. Em suma, escreve-se na introdução geral, os ateus “são bons vizinhos”.
Não duvido que sejam. Porém, um dos erros que perpassa por muitos dos artigos consiste em pôr todas as religiões e fés no mesmo saco, como se a fé crítica equivalesse ao fundamentalismo ingénuo – e por vezes perigoso.
Esta obra, em parte, é fruto do ressurgir da questão de Deus nas universidades laicas inglesas. Deus (ou a sua negação) não será só uma questão de argumentos e debates. É também de vivência do dia-a-dia, de beleza, de ritos, de convicções não teorizáveis, de doação. Mas se os crentes não estão presentes no debate sobre Deus, quem vai estar? Perde-se por falta de comparência?
1 comentário:
Um dos teólogos (protestante, por sinal) mais envolvido no debate com o ateísmo é Alister McGrath, autor de "Dawkins' God: Genes, Memes and the Meaning of Life" (2004), de "The Dawkins Delusion? Atheist Fundamentalism and the Denial of the Divine" (2007) ou de "Why God won't go away: Engaging the New Atheism" (previsto para 2011). Em Portugal não existe muito este espírito anglo-saxónico de debate de ideias, mesmo redicalmente contrárias. Contudo, há um arquitecto português, Luis Ferreira Rodrigues, que publicou "Open Questions" (2010), que considero ser uma obra muito, muito interessante, pois resulta de um diálogo entre o autor, assumidamente ateu, e importantes figuras do debate religião-ciência, entre elas o referido Alister McGrath, mas também Peter Singer e Daniel Dennett.
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