A metafísica ou visão do mundo dos jovens católicos na década de 1950, em Inglaterra, segundo David Lodge no romance “Até onde se pode ir?” (ed. Asa, pág 14-15):
Lá em cima estava o céu e lá em baixo o inferno. O nome do jogo era Salvação e o objectivo alcançar o céu e evitar o inferno. Era como o jogo das Snakes na Ladders: o pecado fazia-os recuar cinquenta casas; os sacramentos, as boas acções, ao actos de mortificação davam-lhes a possibilidade de voltar a subir em direcção à luz. Tudo o que faziam ou pensavam era passível de contabilidade espiritual. Ou era bom ou mau ou indiferente. Os que tinham êxito no jogo eliminavam os maus e convertiam em bons o maior número possível de indiferentes. Por exemplo, uma banal viagem de autocarro (indiferente) podiam ser convertida em pontos se se rezasse o terço em silêncio, passando discretamente as contas entre os dedos, dentro do bolso, no decurso da viagem. Rezar o terço em voz alta e às claras na mesma situação já era mais problemático. Testemunhar a fé, mesmo suscitando a chacota dos não crentes (supondo que estes eram dotadas de paciência e tolerância), era, obviamente, bom - até heróico e virtuoso; mas, feito com o fim de impressionar os outros e chamar a atenção para a virtude própria, era pior do que indiferente, era mau – orgulho do espírito, uma serpente muito traiçoeira. O caminho para o céu estava cheio destas armadilhas. No fundo, existia uma regra que era garantida: qualquer coisa que detestássemos era com certeza boa, e uma coisa que gostássemos imenso de fazer era com certeza má, ou potencialmente má – uma «situação pecaminosa».
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