Gostava e gosto de João Paulo II. Vi-o ao vivo duas vezes. Em Santiago de Compostela, em 1989, e em Castelgandolfo, em 1993. Das duas vezes que fui a Roma não vi o Papa.
Achava-o diferente, não por ter conhecido outros papas (tinha oito anos a quando da sua eleição), mas por me parecer que este era próximo, jogava à bola, esquiava, cantava. Criança e adolescente, isto era importante. Mas tarde li que outros papas tinham cadeiras gestatórias. Para alguns deles só se podia olhar de soslaio, de cabeça inclinada. E um deles, Pio XII, de quem os mais velhos falavam, tinha tantos escrúpulos ou não sei o quê que no final de uma sessão de contacto com as pessoas desinfectava as mãos com álcool. Se calhar, mais papas faziam isso, mas só se dizia isso de Pio XII, sobre o qual também se dizia, no final do pontificado, que o seu papado seria insuperável.
João Paulo II era próximo e mediático. Mas não sei se foi o melhor Papa do séc. XX. Pessoas que admiro e que conhecem mais a Igreja por dentro dizem que foi Paulo VI. No seu serviço à Igreja, é possível apontar várias falhas a João Paulo II, ainda que não seja simpático nem eclesialmente correcto. Dinheiros confusamente administrados pelos seus subordinados, limites discutíveis à investigação teológica, conivência com regimes políticos pouco amigos dos direitos humanos, olhos pouco abertos para os crimes de pedofilia… Mas dizem que o que está em causa é a beatificação de uma pessoa e não do seu pontificado. Porém, não é Karol Wojtyla que se beatifica, é João Paulo II, suponho, e é com esse nome que a Igreja vai invocá-lo.
Será benéfico um Papa beatificar o seu antecessor? Ainda passou pouco tempo. A Igreja não costuma agir com pressa e sob pressão. Aqui parece tudo muito rápido. Mas terei que admitir que posso estar a ver mal. O cardeal cardeal Stanislaw Dziwisz, que foi secretário de João Paulo II durante 40 anos, até aos últimos instantes, afirmou há dias:
Enquanto o meu serviço estava em curso, primeiro ao cardeal Wojtyla e depois a João Paulo II, eu percebia constantemente que ele tinha a ver com um santo. Um dia, olhando para Madre Teresa entre os seus pobres na TV, ele deixou escapar que se poderia canonizá-la ainda em vida. Era só uma declaração simpática. Mas eu pensei que o mesmo poderia ser dito sobre ele.
Li aqui.
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