Ultimamente tenho copiado para este blogue alguns desenhos de José Luis Cortés. Muitos outros podem ser vistos aqui. Há novos todos os dias.
Conheci o autor algures no final dos anos 80 do século passado. Um colega de estudos era superfã, tinha um exemplar do único livro publicado em português e mais alguns que mandava vir de Espanha. E imitava o seu traço nos desenhos, cartazes, autocolantes que fazia (tinha e tem muito talento, talvez subaproveitado). O único livro em português era “Que bom teres vindo”, uma ilustração dos evangelhos nas edições Conhecer - das quais não conheço nenhum outro livro.
Dessa altura ficou-me uma frase que dizia assim: “A Igreja existe para a nossa alegria e não para nos causar dores de estômago”. Esta frase de Cortés ajudou a formar a minha eclesiologia, sempre relativa e provisória. Fui agora à procura do livro e confirmei que não só a frase não diz o que escrevi, como não é de Cortés (embora seja sobre a sua teologia).
A frase diz: “Jesus veio salvar e não pôr-nos úlceras no estômago”. E é de Bernardino M. Hernando, que assina o prólogo da obra. Mas se resgatei das estantes um livro de 1978, publicado em Portugal em 1980, foi porque queria confirmar outro dado. Cortés, de nome completo José Luis Cortés Salinas, é padre. Há dias, um amigo que às vezes lê este blogue dizia-me isso mesmo. Mas eu precisava de confirmar. Foi ordenado na Páscoa de 1975.
Ora (isto tudo só para chegar aqui), o padre Cortés escreve hoje uma carta aberta a Bento XVI. Reconheço que alguns ficarão assustados com o teor e não passarão das primeiras linhas:
Não tenho o gosto em conhecer-te pessoalmente, porque das vezes que vieste a Espanha (e ultimamente vens muito a Espanha), não corri a vitoriar-te, e quando estive em Roma, nunca coincidimos em nenhum restaurante. Talvez se algum dia me chamares a Roma possamos finalmente ver-nos cara a cara.
A carta tem como pretexto principal um livro acabado de sair. Cortés gostou muito e quer recomendá-lo ao Papa: “Padres casados. História de fé e ternura” (edição MOCEOP):
[O livro] recolhe as histórias e os testemunhos pessoais, pessoalíssimos, uns mais literários, outro mais descarnados, alguns objectivos e outros sumamente íntimos, de 23 homens e algumas mulheres (suas esposas) que, em certo momento das suas vidas, decidiram continuar o seu ministério como pessoas casadas, sem deixar por isso de sentir-se padres, quer dizer, “animadores da fé e das celebrações”. Demonstra, com os factos, que “é possível ser padre sem ser clero”.
O livro não é contra o carisma do celibato. É contra a disciplina que o torna obrigatório, conferindo determinado perfil aos que animam comunidades e presidem à Eucaristia (condição sem a qual não há comunidades cristãs). A carta, essa, termina assim, depois de afirmar que Bento XVI tem dado “demasiado espaço aos fanáticos, aos carreiristas, aos receosos, aos tarados” (e no que se segue, julgo que todos concordarão):
Se outro mundo é possível, como cremos firmemente, também é possível outra igreja.
Um abraço, Santidade (ou “Santi”, se preferires).
A carta está aqui.
4 comentários:
Tenho um livro deste autor (editado pela Estrela Polar) que não sei se conhece. Pelo menos nunca li nenhuma referência no seu blog. O livro chama-se "Um Deus chamado Abba".
Deixo o link da Wook: http://www.wook.pt/ficha/um-deus-chamado-abba/a/id/176302
João Paulo, obrigado pela informação. Conheço o livro que refere. Já uma vez o referira neste blogue: http://tribodejacob.blogspot.com/2010/12/mae.html
Na altura devia era ter dito que havia um mais bem antigo.
Existe também um livro de Jacques Sevin ilustrado por Cortés, intitulado "Evangelho do Escuteiro". É das edições Salesianas e é a tradução da obra "Méditations scoutes sur l'évangile" dos Escuteiros de França.
Cumprimentos
Caro Vegeta,
obrigado pela informação. Esse livro, de facto, não conheço, apesar de ter sido escuteiro. Vou estar atento às edições Salesianas.
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