sábado, 12 de fevereiro de 2011

Entrevista a Moltmann, teólogo da esperança



Jürgen Moltmann, “teólogo da esperança” que tem agora quase 85 anos, protestante, deu há dias uma entrevista ao jornal da católico “Avvenire”. Alguns excertos:


Mais do que fé e incredulidade, esperança
A esperança é mais ampla porque ligada ao amor pela vida. Esperamos enquanto respiramos e, se duvidamos e ficamos tristes, a esperança perdida nos atormenta. Onde a esperança é destroçada na vida inicia a violência e a morte.
Fé e sofrimento
Quando eu estava em perigo de vida não me perguntei por que eu me encontrava naquela situação: solicitei ajuda chorando e clamando. Uma divindade boa e onipotente não pode ajudar-nos. No cerne do cristianismo encontra-se a paixão de Deus sobre a cruz de Cristo. Nisso se revela uma paixão pela vida plena de misericórdia pelas devastações da vida. ‘Somente o Deus sofredor pode ajudar’, escreveu Bonhoeffer na cela, olhando o Deus crucificado. No Cristo moribundo a dor de Deus encontrou sua expressão humana. Deus sofre as nossas penas. Cristo vem para procurar o que está perdido e ele mesmo se dá por perdido para encontrar os perdidos. Quem se avizinha de Cristo toma parte na dor de Deus e percebe sua desolação.
Deixar os muros da Igreja
O ateísmo foi debatido tão asperamente a ponto de o escritor Heinrich Boll dizer: “Não me agradam estes ateus, pois falam sempre de Deus”. Após o refluxo para felicidade privada o interesse por Deus desapareceu. Desde então aumentou o número de quantos o perderam e não sentem a falta da fé. Para instaurar um diálogo com eles, os cristãos devem deixar os muros da Igreja e andar no mundo. Os padres operários franceses andaram pelas fábricas e os teólogos da libertação andaram no meio do povo oprimido, compartilhando seu destino. Agora os acadêmicos andam entre os cultos e compartilham suas dúvidas.(…) O confronto entre fé e incredulidade exige que a Igreja dirija o seu coração ao exterior. Deve fazê-lo a todos os ateus sinceros: diz o que crês e crê no que dizes. Leva a sério as perguntas e as acusações de quem não pode crer, e procura junto com ele uma resposta de Deus. Já por demasiado tempo o povo relegou o cristianismo ao ângulo da fé e exaltou o diálogo ente as religiões para prosseguir imperturbada com a secularização. É hora de a fé cristã sair deste ângulo: Cristo não fundou uma nova religião, mas trouxe vida nova!
Uma nota biográfica
Aos 16 anos eu queria estudar matemática e a religião era muito distante do ‘laicismo’ de minha casa. Em 1943 me alistei como soldado, e sobrevivi à tempestade que destruiu Hamburgo com 40.000 mortos. Quando o amigo junto a mim foi dilacerado por uma bomba, por primeira vez clamei a Deus. Experimentei como se ele ocultasse sua face.
Feito prisioneiro, recebi uma Bíblia: os Salmos das lamentações exprimiam o que eu experimentava. Entendi que Cristo é aquele que nos entende e que ele veio para procurar o que está perdido: é aquele que nos encontra. Por vontade de Cristo comecei a ter confiança em Deus. Não terei chegado à idéia que existe um Deus e que Deus é amor apaixonado e disposto a sofrer. Na guerra experimentei como é o abandono de Deus. Por isso, creio que Deus esteja com os sem Deus. E que ele possa ser encontrado entre eles. É neles que Deus aguarda aqueles que crêem.
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