sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

''O inferno e o paraíso também não são lugares, são processos espirituais'', afirma Andrés Torres Queiruga

"A definição de purgatório do Papa não é nova, mas a população desconhece-a porque a pregação não está muito actualizada", afirma o teólogo espanhol no sítio do “La Opinión A Coruña” (aqui em espanhol e aqui em português). Andrés Torres Queiruga assegura que a definição de purgatório do Papa não é algo novo (ver notícia do DN aqui), mas faz parte do "conhecimento comum teológico" há vários anos, e que uma situação semelhante é vivida por outros termos da tradição católica como o inferno e o paraíso. O teólogo já analisou essas questões na sua obra “O que queremos dizer quando dizemos inferno?” (Paulus, 1996).

As palavras de Bento XVI significam uma mudança no conceito de purgatório que a Igreja tem?

Em nada. O único que demonstram é a ignorância teológica que a nossa sociedade actual vive, já que afirmar que o purgatório não é um lugar físico faz parte do conhecimento comum teológico há anos.

Então, em que consiste exactamente o purgatório?

Trata-se de um processo espiritual interno. É lógico pensar que, dado que ninguém morre sendo totalmente bom, há uma espécie de conversão e purificação no encontro com Deus.

As representações tradicionais desse conceito religioso fizeram com que a população tenha uma visão errónea?

Sim, e o facto de a pregação não estar muito actualizada também contribui nesse sentido para que a população desconheça o verdadeiro significado do purgatório. Nesse sentido, é preciso dizer que as palavras do Papa são positivas, porque ajudam os católicos a compreender que o objectivo não é convencer Deus da purificação dos nossos pecados para que seja bom e nos livre das penas do purgatório. O fundamental é alimentar nossa fé e nossa esperança em que o encontro com Deus será para todos salvação definitiva.

A mesma confusão existe com o inferno e o paraíso?

Sim. Tanto o inferno como o paraíso e o purgatório são questões que ultrapassam o espaço e o tempo, e, portanto, não se deve fazer uma descrição física de uma geografia celestial. Eles fazem alusão a processos espirituais que intuímos à luz das experiências reais que vivemos em nossa vida presente e que tentamos expressar com símbolos que animem nossa esperança.


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