A tristeza é um glutão do coração e alimenta-se da mãe que o gerou.
Sofre a mãe quando dá à luz um filho; porém, esta, tendo dado à luz, vê-se livre da dor. A tristeza, ao contrário, enquanto é gerada, provoca fortes dores e, sobrevivendo, após o esforço, não traz sofrimentos menores.
O cristão triste não conhece a alegria espiritual, como aquele que acometido por forte febre não reconhece o sabor do mel.
O cristão triste não saberá como contemplar, nem brota nele uma oração pura: a tristeza impede todo o bem.
Ter os pés amarrados impede a corrida; assim é a tristeza: um obstáculo para a contemplação.
O prisioneiro dos bárbaros está preso com correntes; a tristeza amarra aquele que é prisioneiro das paixões.
A tristeza não tem força, assim como não tem força uma corda se lhe faltar quem amarre.
Aquele que está atado pela tristeza é vencido pelas paixões e, como prova da sua derrota, aumenta a atadura.
O moderado não se entristece pela falta de alimentos, nem o sábio quando é atacado por um lapso de memória, nem o manso que renuncia à vingança, nem o humilde que se vê privado da honra dos homens, nem o generoso que sofre uma perda financeira. Com efeito, eles evitam, com força, o desejo destas coisas, como efectivamente aquele que corajosamente rejeita os golpes. Assim, o homem que confia no Senhor não é ferido pela tristeza.
Evágrio Pôntico
Originário da Capadócia (actual Turquia), Evágrio Pôntico, viveu no séc. IV nos desertos do Egipto. É um dos chamados “Padres do Deserto”, homens que procuravam a perfeição cristã no isolamento dos lugares inóspitos e através da privação dos bens mais elementares.
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