segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Rowan Williams foi apanhado de surpresa na criação da estrutura católica para acolher anglicanos descontentes

O arcebispo de Cantuária, Rowan Williams, primaz da comunhão anglicana, visitou a Índia e deu uma entrevista ao "The Hindu", traduzida para português pelo Instituto Humanitas Unisinos (aqui).

Cito aqui uma parte em que é visada a Igreja Católica. Rowan Williams diz ter-se sentido surpreendido pela criação do ordinariato pessoal para acolher anglicanos descontentes na Igreja Católica "sem qualquer consulta real" à Igreja Anglicana.


No seu mandato assistiu a relações repletas de preocupação com a Igreja Católica Romana. Delas fez parte a Constituição Apostólica quase unilateral que o papa emitiu ano passado criando um novo rito anglicano dentro da Igreja Católica Romana, direccionado para anglicanos que não se sentiam à vontade com a ordenação de mulheres e clérigos gays. Quais são os seus comentários sobre essa situação? Havia uma manchete de jornal que falava da presença de tanques papais no relvado do Palácio de Lambeth.

Sim, eu sei. Eu disse nessa altura época que essa era uma versão da história que não fazia sentido. Fiquei muito surpreso com o facto de termos sido confrontados com essa medida de grande alcance sem qualquer consulta real. E pareceu-me que algumas partes do Vaticano não comunicaram com as outras. De um modo geral, pareceu-me uma providência pastoral para certas pessoas que não podiam aceitar o rumo que a Igreja da Inglaterra estava a tomar, uma providência pastoral que, em si, não afectava as relações entre as duas igrejas, entre igrejas tradicionais.

Mas causou algumas agitações porque creio que havia uma opinião muito disseminada de que teria sido melhor consultar [a Igreja Anglicana]. Havia perguntas que poderiam ter sido feitas e respondidas e tratadas em conjunto. E como isto está a ser implementado agora, estamos a tentar garantir que haja um grupo bilateral que fique atento a como isso irá acontecer. Na Inglaterra, as relações entre a Igreja da Inglaterra e os bispos católicos romanos são muito calorosas e estreitas. Creio que temos condições de trabalhar nessa questão juntos e de não considerar isso uma dificuldade.


No ano passado, o senhor tocou nessa questão num discurso que fez em Roma. Não é um tanto inexplicável que a ordenação de mulheres por parte de igrejas anglicanas se tenha tornado um motivo de rompimento no diálogo católico-anglicano, apesar do facto de que as duas igrejas alcançaram um acordo em questões teológicas bem mais complexas nos anos que se passaram desde a Reforma protestante?

Sim, o que eu estava a tentar dizer em Roma ano passado era, efectivamente, que nos últimos 30 ou 40 anos tínhamos alcançado um nível extraordinário de acordo a respeito de como entendemos o ministério ordenado e os sacramentos. E eu ainda estava bastante perplexo pelo facto de que essa única questão – quem pode ser sacerdote? – de repente surgiu como a única questão que importava, por assim dizer. Na verdade, acho que eu disse que o copo está cheio pela metade, e não vazio pela metade.

De facto, tratamos de muitas questões substanciais lá, e acho que na ocasião eu realmente queria lembrar à minha própria Igreja e às nossas irmãs e irmãos católicos romanos que tínhamos estabelecido uma linguagem comum para falar sobre o sacerdócio e sobre os sacramentos. E não deveríamos supor que a nossa discordância sobre o status das mulheres simplesmente invalidasse todo o resto!

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