A Igreja está condenada à má mediação dos meios? Provavelmente, sim. Mas não só a Igreja. Tudo. Os meios são transmissões e nunca é possível transmitir tudo. Mas pode-se transmitir com mais ou menos fidelidade. Honestidade, até. Evitando as simplificações que desvirtuam.
John L. Allen Jr., relata no “National Catholic Reporter” (em português aqui), três casos de “desorientações, embora em grande parte não intencionais, diante do Vaticano”. Dois são especialmente significativos.
- A agenda do dia que antecede o consistório (para fazer novos cardeais) de 20 de Novembro, que foi apresentada pela imprensa como tendo como ponto único a questão pedofilia quando, afinal, tem cinco pontos: A situação da liberdade religiosa no mundo e os novos desafios; a liturgia na vida da Igreja hoje; os 10 anos da declaração «Dominus Iesus»" (sobre a relação entre o cristianismo e as outras religiões); a resposta da Igreja aos casos de abuso sexual; e a recente constituição apostólica "Anglicanorum coetibus", que prevê a criação de novas estruturas para ex-anglicanos na Igreja católica.
- O “secularismo agressivo” apontado pelo Papa no avião a caminho de Espanha e que foi transmitido como uma referência às políticas de Zapatero em Espanha. Vale a pena ler a pergunta e a resposta de Bento XVI para perceber o que realmente está em causa.
Pergunta: Nestes meses, um novo dicastério para a "Nova Evangelização" está a tormar forma. Muitos têm perguntado se a Espanha, com o desenvolvimento da secularização e o declive da prática religiosa, é um dos países que o senhor tinha em mente como objectivo para o novo dicastério, senão de facto como o objectivo principal. Essa é a nossa pergunta.
Bento XVI: Com esse dicastério, eu realmente pensei no mundo todo, porque a novidade do pensamento moderno, a dificuldade de pensar nos conceitos da Escritura e da teologia, é universal. Naturalmente, há um centro para esse problema, e é o mundo ocidental com o seu secularismo, o seu laicismo e a continuidade da fé, que deve procurar renovar-se para ser uma fé para hoje e para responder ao desafio do laicismo.
No Ocidente, todas as grandes nações têm sua própria forma de viver esse problema: tivemos, por exemplo, as viagens a França, à República Checa, ao Reino Unido, onde [esse problema] está presente de uma forma específica para cada país, para cada história, e isso também é verdade, fortemente, para a Espanha.
A Espanha sempre foi um país "originador" por causa da fé. Pensemos, por exemplo, no renascimento do catolicismo na era moderna, que aconteceu acima de tudo graças à Espanha. Figuras como Inácio de Loyola, Santa Teresa de Ávila e São João da Cruz verdadeiramente renovaram o catolicismo e formaram a fisionomia do catolicismo moderno. Mas é igualmente verdade que um laicismo nasceu na Espanha, um anticlericalismo, um secularismo forte e agressivo, como vimos na década de 1930. Essa disputa, talvez ainda mais esse conflito entre fé e modernidade, ambos dos quais estão muito vivos, também está a desenvolver-se na Espanha hoje.
Por essa razão, o futuro da fé e o encontro, não o conflito, mas o encontro entre fé e laicismo é um ponto central na cultura espanhola. Nesse sentido, pensei em todas as grandes nações do Ocidente, mas sobretudo na Espanha.
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