Estava programado para hoje o lançamento em português do livro de Tony Blair “A Journey - My Political Life”, que na Bertrand tem como título “Tony Blair – Um percurso”. Oportunidade óptima para ler este excerto da entrevista da BBC ao antigo primeiro-ministro britânico, convertido ao catolicismo depois de deixar funções políticas.
Encontrou-se com o Papa. Que efeito isso lhe produziu?
É uma pessoa muito gentil e inteligente. A qualidade da sua mente às vezes faz com que ele seja descrito como distante e frio, mas eu senti que ele é imensamente cordial e caloroso. É um grande intelectual, mas também uma pessoa simples, dotada de grande humanidade. Acho que isso ficou evidente ao longo da visita.
A sua conversão ao catolicismo, há dois anos, gerou muita discussão. Por que é que o senhor se converteu?
Foi como voltar para casa. Fui atraído pelo fato de o catolicismo ser uma religião universal, presente em todos os países. E é a religião da minha mulher e dos meus filhos. Para mim, abraçar o catolicismo não quer dizer faltar ao respeito pela religião anglicana, mas apenas encontrar a casa mais adequada para mim. Além disso, sou um defensor da comunhão entre todas as fés cristãs, assim como do diálogo com as outras fés, o que constitui o objectivo da minha fundação.
Por que esperou deixar de ser primeiro-ministro para se converter?
A decisão já estava tomada, mas, se eu tivesse feito isso durante o período em que era primeiro-ministro, os meios de comunicação social cairiam em cima de mim. Eu já tinha bastantes problemas.
O senhor recebeu uma educação religiosa?
Sim e não. Minha mãe era anglicana, mas não muito praticante. Meu pai é ateu. Depois, em Oxford, durante a universidade, um professor extraordinário fez com que eu me aproximasse da fé, permitindo-me perceber que religião e razão podem conviver. Eu tinha um desejo de religiosidade, e o encontro com aquele professor permitiu-me satisfazê-lo.
Ser católico não o coloca em contradição com as leis por si promulgadas sobre o aborto, a contracepção, a investigação científica?
Eu tenho as minhas ideias e mantenho-as também agora que sou católico. Estou certo de que muitos católicos têm ideias diferentes de algumas doutrinas da fé, mas isso não lhes impede de se definirem como tais.
Uma vez, o seu porta-voz Alastair Campbell disse que, em Downing Street, "não nos ocupamos de Deus". E o senhor mesmo, mais tarde, revelou que lhe teriam tomado por louco se soubessem que o senhor rezava e pedia o conforto do Criador.
É um problema da nossa cultura europeia. Quando Obama termina um discurso com as palavras "Deus abençoe a América", ninguém se admira. Eu também tive vontade dizer às vezes "Deus abençoe a Grã-Bretanha", mas aqui entre nós não se pode fazer isso, senão somos acusados de ser uma teocracia ou algo do género.
A fé mudou o seu modo de fazer política?
Deu-me mais coragem ao tomar certas decisões. Não é que eu vá para um canto e peça a Deus: devo aumentar o salário mínimo? A fé não te ajuda a decidir o que é certo, mas dá-te a força para decidir.
Mesmo quando a decisão é uma guerra que provoca milhares de mortos?
É uma decisão muito difícil. Mas decidir por não intervir, como na Bósnia ou na Rússia, também pode provocar milhares de mortos.
Reza com frequência?
Rezo. E leio a Bíblia. E também o Alcorão. Também o li ontem à noite. Ele ajuda-me a entender como as nossas religiões são semelhantes. O século XX foi o século dos conflitos teológicos. O século XXI corre o risco de ser o dos conflitos religiosos. Mas podemos impedir isso com o diálogo, conhecendo-nos melhor. Como essa viagem do Papa também ajuda a fazer.
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