A Igreja belga está de rastos. O DN de hoje diz “padres belgas violaram 507 menores em 30 anos”. E ainda “13 vítimas de abusos, registados entre 1950 e 1980, cometeram suicídio”.
Foi revelado na sexta-feira um relatório da Comissão sobre Denúncias de Abusos Sexuais por parte de Religiosos na Bélgica (criado pela própria Igreja). Vai estar on-line aqui.
Ao longo de 200 páginas são recolhidos os testemunhos de várias centenas de ex-alunos de instituições educativas da Igreja que, nos anos 1960 e 1970, principalmente, sofreram abusos de religiosos. A partir dos anos 1980 os casos diminuem, porque os clérigos deixam de estar ligados ao ensino.
Como todos os outros, o caso belga é doloroso. Há os crimes e as dores mais o silenciamento. Mas aqui acresce o facto de ser um país sui generis para a Igreja católica, com um laicado forte (Acção Católica, movimentos juvenis que chegaram a ter jornais diários – até o Tintin nasceu à sombra a Igreja), grandes teólogos e missionários, onde até os monarcas eram crentes, embora respeitassem a laicidade do Estado.
Há tempos escrevia Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Santo Egídio, no jornal Corriere della Sera (28-06-2010), que a Igreja católica era uma espécie de última reserva da alma belga, quando até o país se despedaça, sendo um sinal disso a intromissão das polícias nas reuniões, nos computadores e até nos templos católicos.
“A Igreja tem uma grande história de acção e de amizade com a liberdade na Bélgica. Esse país foi um mito para os liberais do século XIX (especialmente católicos), que agitavam o slogan: "Liberdade como na Bélgica". Ela está entre os fundadores da Comunidade Europeia. Mas são histórias distantes em um país cansado, que desmonta as suas instituições.
Nas últimas décadas, a Igreja tornou-se mais silenciosa e recuada, não só por causa da secularização, mas também por causa do processo de resignação. Porém, representa, apesar das sombras, uma reserva de esperança num país em dificuldade. Porque a Bélgica precisa de esperança e de futuro” (lido aqui).
Depois deste relatório, será a Igreja capaz de recuperar credibilidade, infundir esperança, ser sinal de futuro?
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