Summa Daemoniaca. Tratado de Demonologia e Manuel de Exorcistas
José Antonio Fortea
Paulus
340 páginas
José Antonio Fortea
Paulus
340 páginas
O diabo anda arredado das pregações, das homilias, das reflexões teológicas. Falou-se dele por momentos, durante o Ano Sacerdotal (Junho de 2009 – Junho de 2010), porque o Cura de Ars sentia-se assediado pelo “grappin” (algo como “arpão”, “gancho”, espécie de âncora). Mas é difícil levar alguém a sério se disser que foi tentado pelo diabo. Parece uma forma de fugir à responsabilidade pessoal, ainda que haja mal que dificilmente a liberdade humana possa justificar.
O livro “Summa Daemoniaca. Tratado de Demonologia e Manuel de Exorcistas” apresenta-se como o mais completo tratado de demonologia actualmente existente na Igreja Católica.
Escrito em pleno século XXI, pelo sacerdote espanhol José Fortea, este livro expõe, no formato de pergunta e resposta, o que se conhece acerca da natureza do diabo, do inferno, da possessão demoníaca, do exorcismo e de todos os temas relacionados. Depois de mais de uma década de trabalho e após entrevistar centenas de exorcistas de todo o mundo, o autor apresenta este ensaio sobre uma matéria dita sensível.
Baudelaire escreveu um dia que a maior astúcia do diabo consiste em ele fazer crer que não existe. Embora a frase do poeta francês seja usada contra os que não acreditam no diabo, há que dizer que grande parte dos teólogos considera a questão secundária em termos de fé. Há dias, Anselmo Borges escrevia (aqui) que o diabo não é referido no Credo. E não é mesmo, embora haja quem o veja aludido em “todas as coisas, visíveis e invisíveis”, criadas por Deus. Quanto a mim, a navalha de Ockham descarta o diabo/demónio. Não devemos multiplicar os entes onde eles não são necessários. E quanto temos explicações mais simples, não devemos complicar. O diabo/demónio é uma complicação inútil. Não é preciso o diabo e os seus demónios para explicar a maldade de que o coração humano é capaz. E as ditas possessões têm outras explicações, por vezes ainda desconhecidas.
Biblicamente – esse terá de ser sempre o ponto de partida – não há confusão entre demónios e diabo. Diabo é o tentador, o acusador. Mas nunca se fala em possessão diabólica. O diabo não possui ninguém. Os demónios possuem, mas são expulsos. E quando são expulsos, a pessoa fica curada. Biblicamente, os demónios são doenças. E se na linguagem comum usamos o termo demónio é para, de alguma forma, metaforizar o mal. Pensemos no demónio do poder. Do dinheiro. De tantos outros.
Um livro como este, quanto a mim, ao escrever, por exemplo que, quando acontece um azar, “o sacerdote deve responder que não há forma alguma de saber se por detrás desses factos que lhe refiram está ou não o demónio” (página 56), está a prestar um mau serviço a quem quer ser esclarecido. Mais confusão lança. Ao usar uma linguagem que fala de demónios íncubos e súcubos, outro exemplo, está a recuperar categorias que deviam estar nos museus do cristianismo.
O mal precisa de uma explicação. Se tem mecanismos, compreendê-los pode ser uma forma dissolvê-los para fazer sobressair o bem. Mas apelar ao demónio com tanta facilidade não é mental nem espiritualmente saudável. O maior drama pode vir precisamente da omnipresença mental do demónio. O maior mal do demónio está em que, não existindo, pode infernizar a vida de alguns.
Vídeo da apresentação do livro, em Lisboa, no dia 7 de Julho de 2010 (agradeço a Fernando Cassola, que mo indicou; um outro, entrevista, pode ser visto aqui).
Sem comentários:
Enviar um comentário