Na "Folha de S. Paulo" saiu há dias uma pequena entrevista muito útil para compreender Nietzsche. Pelo menos, chama a atenção para um aspecto que passa despercebido quando se estuda este filósofo (falo da minha experiência, obviamente) - a influência da Guerra de Secessão no pensamento do alemão.
Diz Domenico Losurdo, professor em Urbino (itália), autor da biografia "Nietzsche - O Rebelde Aristocrata”:
O início da atividade literária de Nietzsche ocorre em meio à Guerra de Secessão (1861-65), que marca a derrota do Sul dos EUA em eternizar a escravidão negra.
Ele manifestou todo seu desprezo por Beecher-Stowe, a autora do célebre romance abolicionista "A Cabana do Pai Tomás".
Mas, onipresente em Nietzsche e no debate cultural e político da segunda metade do século 19, o tema da escravidão se dissipa ou se transforma numa inocente metáfora no âmbito da hermenêutica da inocência (Bataille, Deleuze, Vattimo, Colli, Montinari etc.).
Sobre a relação entre Nietzsche e nazismo, o ensaísta italiano afirma:
A categoria de "irracionalismo" não me parece particularmente produtiva para explicar Nietzsche e Hitler.
São claros os elementos de continuidade e descontinuidade que subsistem entre um e outro. Quando lemos em Nietzsche terríveis palavras de ordem ("aniquilamento das raças decadentes", "aniquilamento de milhões de malsucedidos"), não podemos deixar de pensar na tradição colonial e no sociodarwinismo, herdados e radicalizados por Hitler.
Também a celebração nietzschiana da escravidão nos reconduz ao nazismo. O Terceiro Reich pretendia encontrar na Europa Oriental, entre os eslavos, os escravos para trabalhar para a "raça dos senhores".
No entanto esse motivo é antípoda ao pensamento de Nietzsche, que, vivendo numa época histórica diferente (anterior à Primeira Guerra), se bate pela unidade da aristocracia de todos os países europeus, inclusive os da Europa Oriental.
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