"Não tem sido um pontificado fácil. Veja-se: a suspeita que rodeou a sua escolha e a recente prova de fogo".
Portugal prepara-se para receber o Papa Bento XVI entre 11 e 14 de Maio. Podem alguns pensar que será uma ocasião desfavorável, quando carrega sobre os ombros a vergonha de situações lastimáveis e está sob os holofotes da inquisição jornalística, atirada para as suas palavras e em inspecção das suas atitudes episcopais.
Ao perfazerem-se cinco anos da morte de João Paulo II, no próximo dia 2 de Abril, vêm à memória as intervenções do cardeal Ratzinger nesses dias de luto e de expectativa. A serenidade lúcida, revelada nos diversos actos e celebrações a que presidiu, abriu caminho à sua escolha para suceder a uma figura tão carismática, criadora de forte empatia humana. Conhece bem a Igreja que deve conduzir e conhece os seus limites, sabe das divergências entre movimentos de tendência contrastante e a todos deseja ver em comunhão numa mesma Igreja de Cristo, sem fatiar a verdade, em nacos ao agrado de cada grupo.
Ter como pastor um notabilíssimo teólogo conduziu à surpreendente valorização central da concepção e do papel da caridade no cristianismo e no Mundo actual. A caridade surge neste pontificado como um dos fundamentos essenciais para a vida e a missão da Igreja. O seu equilíbrio entre teoria e prática, a procura honesta de diálogo entre Fé e Razão, a paixão por Cristo e pela sua Igreja, orientam a firmeza transparente da sua doutrina e abrem para consequências pastorais e sociais.
Não tem sido um pontificado fácil. Veja-se: a suspeita inicial que rodeou a sua escolha, as várias tentativas de encostar as suas afirmações a posições ultrapassadas, como aquando do discurso de Ratisbona, sujeito a malévolas interpretações; ou da resposta aos jornalistas na viagem a África, descontextualizada do sentido pleno; e a recente prova de fogo-cruzado, devida a aberrantes abusos, para além da procura de pacificação com os lefebvrianos, de comunhão com os anglicanos.
É esta figura fisicamente frágil e desgastada por todos estes problemas mas firme e determinada que nos visitará, como peregrino de Fátima. Após a primeira fase dos preparativos, inicia-se agora a organização pormenorizada dos encontros e das celebrações e apela-se a todos que vivam espiritualmente a Páscoa deste ano com forte interrogação sobre a Verdade e o sentido da vida. É tempo para que cada um programe o seu tempo de modo a ter o privilégio de participar em algum dos momentos da sua visita.
D. Carlos Azevedo, Bispo Auxiliar de Lisboa
Fonte: Correio da Manhã
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