quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Eminentíssima reforma dos eminentíssimos cardeais

Túmulo de Bartolomeu dos Mártires, em Viana do Castelo

Licínio Lima escreveu no DN de 4 de Novembro de 2001, dia da beatificação de Bartolomeu dos Mártires (que entrou para os dominicanos, em Lisboa, no dia 11 de Novembro de 1528 e professou com o nome de Frei Bartolomeu dos Mártires no dia 15 de Novembro de 1529):

Trata-se da beatificação do português mais controverso da história da Igreja. Nascido em 1514, em Lisboa, Frei Bartolomeu ficou conhecido mundialmente devido à sua participação no famoso Concílio de Trento (1561-63), cuja realização se deveu, sobretudo, ao impacto da reforma protestante, lançada por Martinho Lutero, por toda a Europa ocidental.

Considerado por historiadores contemporâneos como "o maior padre conciliar" presente em Trento, o bispo português disse na altura verdades que servem para a actualidade: "A Igreja e o mundo todos estavam mais precisados de reformas do que de dogmas." Defendendo uma reforma eclesial desde a cúpula até às bases, não se coibiu sequer de sublinhar que as mudanças deveriam começar pela "eminentíssima reforma dos eminentíssimos cardeais".

Depois da participação em Trento, regressou à arquidiocese de Braga, onde foi bispo durante 23 anos, e empenhou-se em aplicar as decisões do Concílio. A ignorância causava-lhe calafrios, e mais ainda quando ouvia da boca dos padres máximas que consideravam de sapiência: "Bendita seja a Santíssima Trindade, irmã de Nosso Senhor Jesus Cristo." Perante tão santa insciência, escreveu livros de doutrina para que fossem lidos ao povo e criou escolas de teologia moral para formação do clero. São da sua autoria 32 obras que marcaram o seu tempo, uma das quais - o Estímulo de Pastores - foi oferecida a todos os participantes nos I e II Concílios do Vaticano.

Da sua iniciativa foi também a fundação do Seminário Conciliar de Braga, considerado a primeira casa de formação de sacerdotes em todo o mundo.

Durante o seu pontificado, visitou todas as 1300 paróquias da sua extensa diocese, cujo território abrangia o Minho e Trás-os-Montes, até Freixo de Espada à Cinta. Conhecedor do terreno, organizou um sínodo diocesano para ouvir as bases e, assim, vislumbrar a melhor forma de o povo interiorizar o Concílio de Trento. E para que a sua acção não fosse isolada, promoveu um concílio provincial com os bispos das dioceses circundantes, sufragâneas da sua. O diálogo com os crentes e os colegas marcou a sua acção.

Depois, exausto e doente, com apenas 69 anos, pediu ao Papa que o deixasse descansar. Resignou sem se importar com a perda dos privilégios. Isto aconteceu em 1581, tendo-se retirado para o Convento de São Domingos, em Viana do Castelo, fundado também por si, onde se dedicou à oração e meditação, e a cuidador dos pobres. Ali morreu em 1590.

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