sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Dentro da cabeça de uma jovem muçulmana europeia

A maior amiga de Jasmim é Amira, que também tem 23 anos e está prestes a casar-se com Shedi. Jasmim está preocupada porque a mãe do noivo de Amira, uma senhora de valores muçulmanos tradicionais, quer que a quase nora faça um teste de virgindade. Jasmim recebeu de Amira uma mensagem no telemóvel que diz: “Socoooorro! Futura sogra propõe, ou antes, impõe, visita ao ginecologista (o dela). Objectivo: verificar a necessária e imprescindível imaculada condição para desposar o seu santíssimo filho. Achas que é grave?”

“Hoje talvez não mate ninguém” é um quase-diário de uma jovem muçulmana de condição social média-alta, a viver em Milão. O título é obviamente irónico. Remete para o que os ocidentais podem pensar sobre os muçulmanos após o 11 de Setembro. Por isso mesmo, se há alguém a protagonista detesta é Oriana Fallaci (que morreu em 2006, já depois da edição original deste livro). Após a queda das torres da NY, a jornalista italiana escreveu de forma indecente sobre os muçulmanos, como se estivesse iminente a proibição das bebidas alcoólicas na Europa e a pena de morte para quem as beba, a proibição da mini-saia, a obrigação do chador e o leite de camela…

E por isso mesmo, outra vez, entre os muitos desejos de Jasmim (“que o Shedi deixe de parecer com um orangotango… para bem de Amira”, “que a minha celutite desapareça”, “que Roberto Benigni venha a ser primeiro-ministro”, “que eu deixe de pisar cacas quando ando na rua”, “que Israel deixe de Matar”, “que o Hamas deixe de matar”), está este: “Que os jornalistas furiosos não cuspam veneno sobre nós, e que os racistas, os intolerantes e os medrosos não dêem ouvidos a jornalistas furiosas”.

Randa Ghazy nasceu em Milão, filha de pais egípcios. Em 2002, com quinze anos, publicou o seu primeiro romance, o aclamado “Sonhando com a Palestina”, que já foi traduzido em quinze línguas. Estuda relações internacionais e quer ser jornalista, aprender uma vintena de línguas estrangeiras, viajar e continuar a escrever romances.

Hoje talvez não mate ninguém, de Randa Ghazy, na Paulinas, (210x140mm; 206 páginas)

Sem comentários:

Há um sínodo?

O sínodo que está a decorrer em Roma é de uma probreza que nem franciscana é. Ou há lá coisas muito interessantes que não saem para fora ou ...