Daniel Mendelsohn intermedeia a narrativa da “procura de seis em seis milhões” de “Os desaparecidos” com páginas de comentários bíblicos ao Génesis (pelo menos até ao ponto onde estou a ler). No primeiro comentário, sobre o primeiro versículo da Bíblia, afirma:
“Ao contrário da crença de milhões que têm lido a Bíblia do Rei Jaime, o versículo não significa «No princípio, Deus criou os céus e a terra», mas sim algo como (…): «No princípio da criação dos céus e da terra por Deus…»”
A tradução correcta do hebraico deve ser:
“No princípio da criação dos céus e da terra por Deus – quando a terra era informe e disforme e as trevas estavam sobre a face do abismo, e o espírito de Deus se movia sobre a superfície da água – Deus disse: «Faça-se luz».”
A Bíblia portuguesa mais popular, a da Difusora Bíblica, traduz assim:
“No princípio, quando Deus criou os céus e a terra, a terra era informe e vazia, as trevas cobriam o abismo, e o espírito de Deus movia-se sobre a superfície das águas”. Deus disse: «Faça-se a luz».
A tradução portuguesa aproxima-se da de Raschi / Friedman. Por que é que Mendelsohn escreve sobre isto? É muito importante traduzir bem o princípio não só porque “se captares erradamente os pequenos pormenores, então também o quatro geral estará errado”, mas também porque “muitas vezes são as pequenas coisas, e não o grande plano, que a nossa mente consegue confortavelmente apreender”.
“É, de facto, mais apelativo para os leitores absorverem o significado de um acontecimento histórico mais vasto através da história de uma única família”. É disso que fala “Os desaparecidos”. “À procura de seis em seis milhões”.
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