domingo, 9 de agosto de 2009

Anselmo e o capitalismo

Anselmo Borges escreve sobre o capitalismo, no DN (aqui). Pergunta se é moral. E, com umas referências a Kant, Platão e André Comte-Sponville acaba por concluir que não é moral nem imoral, mas amoral. Sem moral.

“O capitalismo é, pois, amoral. Não funciona pela virtude nem pelo desinteresse ou pela generosidade, mas pelo interesse pessoal ou familiar, pelo egoísmo. Se funciona bem, é precisamente porque egoísmo é coisa que não falta, mas, também por isso, não basta. O mercado, que mostrou ser o sistema mais eficaz, não tem a capacidade de regulação socialmente aceitável e a moral também não consegue”, escreve.

Tenho algumas objecções às considerações do padre filósofo. O capitalismo é uma actividade humana. Ou melhor, é o nome que se dá a um conjunto de actividades económicas humanas. Anselmo Borges não explica o que entende por capitalismo e esse será a primeira fonte de mal-entendidos. Dando o exemplo do comerciante que é honesto por causa do seu próprio interesse, tirado de Kant (mas que faz lembrar o talhante, do cervejeiro e do padeiro do professor escocês de Moral chamado Adam Smith), parece reduzir o capitalismo ao mercado. Ao negócio de compra e venda.

Mas o capitalismo é também livre iniciativa, liberdade de fazer e investir, de criar. O capitalismo é tão questão de negócio como de liberdade e criatividade. E estas são questões essencialmente humanas. E aqui entra a ética e a moral.

Perguntar se o capitalismo é moral é como perguntar se a indústria é moral ou se a agricultura é moral, se uma faca, um automóvel ou uma folha de papel são morais… Depende. Só o ser humano é que é moral. Todas as actividades são morais ou imorais apenas na medida em que nelas participam os seres humanos.

Os problemas que o capitalismo apresenta, tal como em todas as outras actividades, são problemas humanos. Têm rostos e nomes. Procedem de acções imorais.

Por outro lado, penso que é injusto identificar “interesse” com “egoísmo” na generalidade. Interesses teremos sempre, mas podem ser egoístas ou não. Anselmo Borges não é o único a identificar capitalismo com egoísmo. Há toda uma corrente com ligações à Igreja, a alguns socialismos, comunismos, anarquismos que assim pensa. Está latente. Mas penso que essa identificação não serve nem a verdade nem o bem comum da sociedade que somos.

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