quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Também gosto

E ninguém lhe faz uma OPA?

No "Correio da Manhã" de hoje (e em toda a outra imprensa), notícias das suspeitas sobre o Instituto para as Obras Religiosas (IOR), o chamado Banco do Vaticano. A questão que fica sempre é: É mesmo preciso o Vaticano ter um banco? Dizem que sim. Razões de Estado, de independência, de representatividade nas instâncias internacionais, que justificam igualmente a existência de um Estado do Vaticano.

Nem presunção nem enfermidade

Eu não gosto daqueles que falam de Deus como de um valor seguro. Também não gosto daqueles que falam dele como se fosse uma enfermidade da inteligência.

Christian Bobin (1951 -...)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

21 de Setembro de 1452. Nasce Girolamo Savonarola

Savonarola (Ferrara, 21 de Setembro de 1452 – Florença, 23 de Maio de 1498) ouviu um sermão de um monge agostiniano (como Lutero também viria a ser) e resolveu renunciar ao mundo e entrar para a ordem dominicana em Bolonha. Isto aconteceu-lhe aos 22 anos. Convenceu-se então de que o mundo e a Igreja estavam em decadência e concentrou-se em práticas ascéticas. Em 1481 ou 1482 foi enviado para Florença, onde imperavam os Médici e florescia a cultura clássica, que muitos conotavam com o paganismo.

Savonarola pregava na Igreja de S. Marcos com tanto sucesso que passado algum tempo, denunciando a tirania de Lorenzo Médici e a degradação dos costumes, consegue instaurar uma democracia teocrática (Cristo era o rei de Florença) alicerçada nas suas ideias – incluindo a queima de livros perniciosos.

O Papa Alexandre VI, pouco amante de ascetismo, como é sabido, chama o frade a Roma, mas este desobedece. Savonarola queria renovar toda a cristandade, e principalmente Roma, a partir de Florença e com o apoio de outros monarcas europeus. Entretanto, a oposição em Florença cresce, impulsionada também por franciscanos, e o mosteiro de São Marcos é assaltado. Savonarola é acusado de heresia e condenado no dia 22 de Maio de 1498. Morre no dia seguinte, enforcado. O seu corpo, com os de outros dois frades, são queimados na Piazza della Signoria. Entretanto, na Alemanha, o jovem Martinho Lutero tem quase 15 anos.

Tornai belas as vossas vidas

O dia em que o Papa abalou os alicerces do mito protestante da Grã-Bretanha

Texto de Damian Thompson publicado nos blogues do Telegraph (aqui), traduzido para português do Brasil por Moisés Sbardelotto (aqui) e reproduzido agora com pequenas adaptações. É um dos muitos que por estes dias têm surgido na imprensa algo-saxónica de estupefacção (positiva) pela visita de Bento XVI.


Como é estranho que tenha sido o jornal “The Guardian” [diário britânico conotado com a esquerda] a compreender a magnitude do que aconteceu nesta sexta-feira [18 de Setembro]. Andrew Brown, editor de religião e possuidor de um intelecto tão poderoso e confuso como o de Rowan Williams [arcebispo de Cantuária, primaz anglicano], escreve:

“Este foi o fim do Império Britânico. Em todos os quatro séculos de Isabel I a Isabel II, a Inglaterra foi definida como uma nação protestante. Os católicos eram os Outros, às vezes terroristas violentos e rebeldes, às vezes meros imigrantes sujos. A sensação de que esta era uma nação especialmente abençoada por Deus surgiu a partir de uma leitura profundamente anticatólica da Bíblia. No entanto, ela foi central para a autocompreensão inglesa quando a rainha Isabel II foi coroada em 1952 [sic], e jurou defender a religião protestante pela lei estabelecida.

Em todos esses 400 e tal anos, teria sido impensável que um Papa pudesse estar no Westminster Hall e louvar Sir Tomás Moro, que morreu para defender a soberania do Papa contra a soberania do rei. A rebelião contra o Papa foi o acto fundacional do poder inglês. E agora esse poder foi-se, e talvez a rebelião também”.

Esse foi, realmente, um dia de eventos impensáveis. Muitos protestantes ficaram perturbados ao ver o Papa Bento XVI no Westminster Hall louvando São Tomá Moro (que aliás morreu para defender o que ele via como a soberania de Deus). Eu não concordo, no entanto, que a rebelião contra o Papa foi o “acto fundacional do poder inglês”. Brown é um agnóstico de esquerda de quem esperamos que desconfie de um mito nacional.

Mas aqui vamos nós de novo – contaram-nos que a Inglaterra descobriu a sua identidade como resultado da Reforma. Na verdade, a indústria e a cultura inglesas floresceram sob o patrocínio espiritual de Roma. Se o país tivesse permanecido católico, elas teriam continuado a florescer. (Na Alemanha, cidades que permaneceram católicas eram tão prósperas quanto as que se tornaram protestantes).

Na verdade, se quisermos provas da autoconfiança da nossa identidade nacional católica, procuremos na Abadia de Westminster e no Westminster Hall. Pelo menos nos primeiros 500 anos da sua existência – não podemos ter certeza de quando foi fundada – , a Abadia foi obediente aos antecessores de Bento XVI.

Assim, o facto de o Papa entrar hoje [dia 18 de Setembro] na Abadia foi uma afirmação do seu próprio "acto fundacional". Não foi por acaso que ele apontou no seu discurso que a Igreja era dedicada a São Pedro. Mesmo os católicos que nunca seriam tão rudes ao ponto de dizerem "a Abadia pertence-nos a nós, não a vocês" sentiram que a história estava a ser de alguma forma reequilibrada. Eles perceberam que o Papa tinha tanto direito de se sentar nesse santuário quanto o arcebispo de Cantuária (que, na verdade, mostrou ao Santo Padre um grau de respeito que implicava que ele, pelo menos, reconhecia a primazia espiritual da Sé de Pedro mesmo que rejeite alguns de seus ensinamentos).

É claro que eu não estou a negar que durante séculos o anticatolicismo foi central para a autocompreensão inglesa, mesmo que tenha levado quase um século de ataques e de perseguições para suprimir a velha religião. E ainda há bolsas de intenso ódio a Roma na sociedade inglesa de hoje. A diferença é que os únicos anticatólicos com influência são os secularistas que não estão suficientemente interessados nas reivindicações papais ao ponto de descobrirem o que significam. (Estou a pensar no documentário surpreendentemente ignorante de Peter Tatchell para o Channel 4). Eles odeiam a religião e atormentam os católicos, porque são o alvo mais frágil.

Os anticatólicos protestantes, em contrapartida, não têm amigos nos meios de comunicação social nem aliados úteis na Igreja da Inglaterra Tudo o que eles podem fazer é ver, horrorizados, como o Papa de Roma entra em procissão onde os monarcas protestantes são coroados, declara sem ambiguidades que é ele o sucessor de São Pedro, com responsabilidade pela unidade da Cristandade, e depois sai – sob um afectuoso aplauso.

Na verdade, ainda não estou completamente certo do que fazer com tudo isso. Os discursos de Bento XVI valem a pena ser lidos várias vezes. Muitas vezes acabam por ser mais radicais do que pareceram à primeira vista. Mas uma coisa é certa. Apesar da cortesia despretensiosa dos modos do Papa, ele não cedeu um milímetro.

Faça você mesmo sua igreja!

Todos os dias surgem quatro novas igrejas nos EUA. E também devem fechar algumas. Mas parece que para alguns é uma forma de ficar rico. Pode-se arranjar um certificado de reverendo na Internet. No "Expresso" de sábado passado (19 de Setembro), a pretexto do pastor que queria queimar o Alcorão.

Todo-Poderoso cativo

Deus não é o Todo-Podereoso dominador, é o Todo-Poderoso cativo, cativo das liberdades que ele criou no cimo do mundo para que o mundo possa culminar no amor.

Abbé Pierre (1912-2007)

Oração contra ídolos e demónios

Senhor,
a ninguém mais queremos agradar,
nem ao espírito da raiva,
nem ao espírito da tristeza,
nem ao espírito da cobiça,
nem ao demónio ou a um dos seus ajudantes.
Ao teu apelo respondemos:
“Vê, somos teus”.
E isto queremos comprovar pelas nossas obras.
Fizemos a nossa promessa
e a ninguém mais obedeceremos,
pois somente tu és nosso Deus.
Não reconhecemos nenhum outro deus,
nem o estômago, como os glutões, cujo deus é a barriga,
nem o ouro, como os avarentos,
nem a avareza, que é idolatria.
Não reconhecemos qualquer outra coisa como Deus,
nem a colocamos à mesma altura de Deus.
O nosso Deus é aquele que está sobre tudo,
que tudo trespassa e em tudo está.

Orígenes (185-254 d.C.)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

20 de Setembro de 1586. O jesuíta John Ballard é morto por participar numa conspiração contra a rainha de Inglaterra

Daniel Craig faz de John Ballard no filme "Elizabeth"

John Ballard, padre jesuíta, participou numa tentativa de assassínio da rainha Isabel I de Inglaterra, que ficou conhecida por “Babington Plot”, “Conspiração de Babington”, porque liderada por Anthony Babington. Depois do assassínio da rainha protestante, a Espanha deveria ajudar Maria Stewart, rainha da Escócia, a ficar com o trono da Inglaterra. A conspiração é descoberta, John Ballard e os colegas são presos, torturados e executados e tudo isto contribui para o fim da rainha católica. Maria Stewart já estava presa havia uma série de anos, mas com a ligação à conspiração, surgiu finalmente um pretexto para a sua execução pelo crime de traição em 1587.

Tolkien, Newman e Bento XVI

Quem é o autor da estátua de John Henry Newman que esteve na cerimónia da beatificação? Pode ser vista na notícia do “Correio da Manhã”, na segunda página, imediatamente abaixo. O autor é Tim Tolkien. E como o nome sugere, é da família do autor do “Senhor dos Anéis”, J.R.R. Tolkien (1892-1973). Bisneto.

Não sei se o Papa gosta de ler Tolkien. Dele li em tempos comentários a C.S. Lewis, amigo de Tolkien, mas todo ele anglicano. Mas a relação no meio disto tudo não tem a ver com gostos literários, pelo menos directamente. É que Tolkien, o bisavô, foi estudante do oratório fundado por John Henry Newman, em Birmingham. Nasceu dois anos depois da morte do cardeal, mas foi aluno do irmão Francis Morgan, um protegido de Newman.

Se Tolkien era um católico convicto (até preferia a missa em latim, aqui), deve-o também a Newman e ao seu Oratório de São Filipe de Neri.

Notícia da BBC com Tim Tolkien, aqui.

Para já, a viagem foi um sucesso


A imprensa é unânime em reconhecer que a viagem de Bento XVI ao Reino Unido foi um sucesso. Porém, se a unanimidade à volta da polémica, antes da viagem, não estragou a primeira visita de Estado do pontífice católico, é de questionar se o sucesso significará algo, efectivamente, a longo prazo, para os cristãos britânicos e para todos os outros que seguiram com atenção esta viagem crucial. Eu só espero que sim. As notícias aqui copiadas são do "Correio da Manhã" de hoje (20 de Setembro de 2010).

Mesmo nos momentos difíceis

Cada acontecimento, qualquer que seja, é como uma apalpadela de Deus. Cada facto, cada coisa que se produz, quer ela seja feliz, infeliz ou indiferente do nosso ponto de vista particular, é uma carícia de Deus.

Simone Weil (1909-1943)

domingo, 19 de setembro de 2010

Retratos de John Henry Newman

A National Portrait Gallery, em Londres, tem 32 representações de John Henry Newman (uma escultura, dois óleos e diversas fotos e desenhos, alguns deles quase caricaturas). Podem ser vistos aqui 23 desses 32 “retratos”. Fica-se com uma uma ideia muito plástica do padre feito cardeal por Leão XIII (mas não bispo).

Dois livros de Newman no dia da sua beatificação

1. “Apologia”, das edições Verbo, publicado em português em 1974 (aqui apontado, há tempos), de título completo “Apologia Pro Vita Sua”, é uma história das suas convicções religiosas em cinco capítulos, terminada no dia 26 de Maio de 1864. O autor ainda viveria mais 26 anos, até 11 de Agosto de 1890.

Newman descreve as influências na sua educação, como cresce a sua consciência religiosa, o que escreveu e porquê, a aproximação à Igreja Católica (por via da história e principalmente dos Padres da Igreja – teólogos dos primeiros séculos), mas também o ambiente cultural da Inglaterra e da Igreja anglicana do séc. XIX e até uma defesa contra o que pensavam alguns católicos.

Uma frase: “Desde que sou católico, já me têm por vezes acusado de relutância em fazer conversões; e os protestantes têm deduzido, do facto, que não tenho muita pressa de as fazer. Agir de modo diferente seria contrário à minha maneira de ser; mas, além disso, seria esquecer as lições que recebi na experiência das minha história passada” (pág. 147).

2. “Ensaio a favor de uma Gramática do Assentimento”, de 1870, publicado em português pela Assírio & Alvim, em 2005, é um estudo sobre a aquisição da certeza no conhecimento religioso e teológico, uma espécie de introdução à lógica religiosa que não descura a razão, por quem “aderiu a um realismo ontológico, sereno e crítico”, segundo expressão de Artur Mourão, que escreve na introdução a esta obra que Newman é “uma glória das duas Igrejas, um herói do pensamento cristão e um dos grandes mestres da língua inglesa na prosa, na oratória e sobretudo na controvérsia”.

Na contracapa, Joseph Ratzinger, que hoje como Bento XVI presidiu à beatificação (notícia aqui), conta que quando em 1947 continuou os seus estudos em Munique encontrou “no professor de Teologia Fundamental um culto e apaixonado seguidor de Newman” que lhe deu a conhecer a “Gramática do Assentimento”. E remata: “Com isto ele pôs nas nossas mãos a chave para inserir na teologia um pensamento histórico, ou melhor: ele ensinou-nos a pensar historicamente a teologia, e precisamente desta forma, a reconhecer a identidade da fé em todas as suas mutações”.

Bento Domingues: A profundidade dos sexos

Crónica de Bento Domingues no Público de 19 de Setembro. A pretexto de um livro de livro de Fabrice Hadjadj recém-publicado em português, do qual se afirma que requer uma leitura integral e não saltitante (Oliveira Martins insistiu), o dominicano diz que há “confusões” e “lugares-comuns não criticados, em torno da chamada moral sexual da Igreja”. Nas palavras de Hadjadj: “Qualifica-se sempre de tabu aquilo de que se tagarela sem restrições, remete-se para o inconsciente o que se divulga nos quiosques”.

Bento Domingues diz que o autor francês de nome árabe, judeu de nascimento e católico por conversão, é contra o “chamado neognosticismo”, que gera “deboche e castração”, e termina com uma afirmação que não sei bem o que quer dizer: “Os sexos, relativos entre si, na sua profundidade, podem viver, na carne cheia de espírito e no espírito incarnado, a resistência a todas as tentativas técnicas ou pseudo-espirituais do pós-humano”. As perguntas a que gostava que respondesse, para me esclarecer, são estas: Onde está o neognosticismo? Dentro ou fora da Igreja? Nos dois espaços? Onde estão as formas de castração? Dentro ou fora da Igreja? (O deboche só devia estar fora da Igreja). O que é tentativa técnica do pós-humano: reprodução sem sexualidade? Sexualidade sem humano? E o que é tentativa pseudo-espiritual do pós-humano? E o que é pós-humano? É pós-uma-certa-ideia-de-ser-humano ou também pode ser pós-esta-vida? Há vivências da sexualidade preconizadas pela Igreja que se enquadram no pós-humano?

A crónica de 13 de Junho referida no texto de Bento Domingues de hoje ser lida aqui.

Ventos contrários

Deus serve-se dos ventos contrários para nos conduzir ao porto.

Charles de Foucauld (1848-1931)

sábado, 18 de setembro de 2010

Baptizar extraterrestres

Lendo uns blogues, uns jornais, uns sítios e uns livros, podemos fazer, por vezes, as mais incríveis relações. Não é que a que eu vou fazer seja especial, mas tem a sua graça de coincidência. Vejamos. Hoje de manhã leio a crónica de Anselmo Borges no jornal (leio-a primeiro no papel e só depois a copio do DN digital). Fica-me na mente a ideia de desenvolver uma resposta ao argumento da pequenez humana na imensidão do universo (ou pluriverso, como alguns defendem) enquanto sinal do alheamento de Deus para com a questão humana e, presume-se, da própria inexistência de Deus. Ao mesmo tempo, penso hoje várias vezes em John Henry Newman, um teólogo das minhas preferências há muito tempo. Como se sabe, vai ser beatificado em Birmingham, amanhã, numa celebração presidida por Bento XVI. Ora hoje, em Birmingham, está um velho conhecido deste blogue, Guy Consolmagno, cujo livro “A Mecânica de Deus. Como os Cientistas e os Engenheiros entendem a Religião” esteve várias semanas na montra deste blogue (ver aqui e aqui, por exemplo).

Consolmagno é jesuíta e astrónomo. Foi à terra onde viveu Newman dar uma conferência no British Science Festival, evento que não está relacionado com a visita papal, como é óbvio. Por estes dias afirmou que estaria disposto a baptizar um extraterrestre, “se este assim o desejasse” (li aqui).

Ele explica melhor: “Desde a Idade Média, a definição daquilo que é dotado de uma alma é aquilo que possui inteligência, livre arbítrio, liberdade de amar ou não, liberdade de tomar uma decisão”. Nesse sentido, “toda a entidade – e não importa quantos tentáculos tenha – tem uma alma”. Sendo inteligente, qualquer criatura pode ser filha de Deus pela admissão no baptismo (desde que não seja alérgica à água, como no filme quanto a mim sofrível de Shyamalan, mas de mensagem baptismal, "Sinais": uns extraterrestres que se assemelham ao diabo das apresentações medievais e que só são destruídos pela água, enquanto o pastor passa por uma crise de fé... Está assim explicada a ilustração deste texto, a qual nada tem a ver com Consolmagno).

O que é que isto tem a ver com a questão do grão cósmico que é o ser humano? Muito. Primeiro, podendo não estar só, isso não causa problema teológico de maior (questão há muito debatida). Depois, afirmar a solidão humana no universo pode, afinal, ser apenas um sinal das limitações de quem faz a afirmação. Por outras palavras: é demasiado que o não sabemos sobre o ser humano, o universo e Deus para fazer afirmações peremptórias.

Há, contudo, a questão da missão única da humanidade no universo, já que foi a parte de vida inteligente (supondo que podem existir outras) em que encarnou Jesus Cristo, o Filho de Deus. Mas essa é outra história.

Um textinho de Newman em vésperas de ser santo

Retrato de John Henry Newman
na National Portrait Gallery, em Londres

Conduz-me,
Generosa Luz,
No meio da escuridão que me rodeia.
Conduz-me a Ti!
A noite é toda ela trevas
E estou muito longe de casa.
Conduz-me a Ti!
Guarda meus pés.
Não peço para ver
A paisagem distante.
Um passo é suficiente para mim.

Universo demasiado grande para o ser humano

Um dos argumentos dos novos ateus com origem em áreas científicas consiste no sublinhar da incongruência da afirmação cristã da centralidade do ser humano no universo ou na negação de que universo tenha como finalidade a vida do ser humano.

O raciocínio é mais ou menos este: Segundo os cristãos, o mundo foi criado por Deus para o ser humano. Ora, havendo uma pluralidade de sistemas solares, galáxias e conjuntos de galáxias, a milhões de anos-luz de distância, com milhões de outros planetas e, sabe-se lá, com quantas formas de vida, e até de outros universos, que sentido fará dizer que tudo isto foi feito a pensar no ser humano? Ou dizer que a intenção de Deus era criar a humanidade? Nenhum. Logo, Deus não existe. Resta o acaso.

Este raciocínio (ao qual alude Anselmo Borges no terceiro parágrafo do seu texto de hoje, aqui), para além de partir de uma afirmação duvidosa (pois para os cristãos a centralidade da totalidade, incluindo o universo, está em Deus; na Criação, o ser humano tem alguém acima dele; e nada exclui que haja outros seres inteligentes pelo universo fora - se forem inteligentes, Deus também é para eles) e de chegar a uma conclusão não implicada nas premissas (em vez de afirmar a não-existência de Deus poder-se-ia afirmar antes o não conhecimento dos desígnios de Deus, o que, admita-se, pode não satisfazer lá muito), tem um preconceito contra o ser humano. Desconsidera as suas capacidades para conhecer o mundo. Talvez o universo não seja assim tão grande com o passar dos anos. Como também o mundo se tornou pequeno.

Há 500 anos, se alguém dissesse que um dia seria possível levar pelo ar, a mil km/h, meio milhar de pessoas, dir-lhe-iam que estava a delirar (e poderiam mandá-lo para a fogueira se tal cheirasse a bruxaria ou a diabolices). E ninguém teve esse sonho. Todos os projectos de voo (de Ícaro a Leonardo da Vinci) eram individuais. Hoje, as distâncias intergalácticas parecem impossível de conquistar. Mas não se sabe como será amanhã.

Sinodalidade e sinonulidade

Tenho andado a ler o que saiu no sínodo e suas consequências nacionais, diocesanas e paroquiais. Ia para escrever que tudo se resume à imple...