quinta-feira, 23 de junho de 2011

A coisa perdida

Maravilhosa história sobre a amizade, a indiferença, a atenção ao diferente. Ganhou o Oscar de curta metragem em 2011. O autor, Shuan Tan, australiano de origem chinesa, tem publicados em português pelo menos dois livros: "Contos dos subúrbios" e "A árvore vermelha". Sítio do autor aqui.

Fortitudo mentis

Tendemos a pensar a coragem como algo físico. São Tomás de Aquino dizia que é uma fortitudo mentis, uma qualidade da mente.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Teólogos e bispos: turras e diálogo

“Houve um tempo em que os melhores teólogos da Igreja eram bispos”, afirmou D. Patrick McGrath no encontro da Sociedade Teológica Católica dos EUA, em San Jose, Califórnia. O bispo fez uma pausa e acrescentou: “Mas isso foi há muito tempo”. Um editorial do "National Catholic Reporter" reflecte sobre as tensões entre teólogos e magistério:
Bispos e teólogos têm tentado descobrir como trabalhar juntos e pôr em ordem seus próprios papéis – pastores, estudiosos, educadores – desde a igreja primitiva. Ao longo desse caminho, muitas vezes, eles pisaram nos dedos dos pés uns dos outros, causando dor e a eventual necessidade de reconciliação. Parece que estamos em um desses momento novamente.
É necessário haver diálogo e reconciliação. Há 30 anos, todos os teólogos eram padres. Jogavam golfe e ténis com os bispos (nos EUA, certamente). "Havia um contexto para um relacionamento". A realidade mudou e aumentaram as tensões.
Reconciliação, deve-se acrescentar, não significa resolver todas as diferenças conquistando o outro lado para o seu. Ao contrário, significa ser aberto, honesto e respeitável em atitude quando se trabalha para resolver o conflito. Em diferenças aparentemente pequenas acerca de questões doutrinais de peso, o significado dado até mesmo a cada palavra pode causar separação.
Ler tudo aqui.

“Se isto é Jesus Cristo, é um milagre do caneco"


Em 1999, uma imagem do “Ecce Homo”, o Cristo nu, foi colocada num pedestal em Trafalgar Square, em Londres. Era a de um jovem delgado, que parecia imensamente vulnerável. Ao contrário de todas as outras estátuas, dos grandes e dos bons à sua volta, e mesmo dos leões, era apenas do nosso tamanho. Conta-se que um transeunte terá dito: “Se isto é Jesus Cristo, é um milagre do caneco. Não se podia ter fé em alguém como aquilo, é fraco como um gatinho”. Os iconoclastas tinham razão em se preocupar. É escandaloso mostrar a face nua de Deus.

Timothy Radcliffe, "Ser Cristão para quê?" (ed. Paulinas), pág. 100

Uso da razão

Para o crente, é essencial o empenhamento no uso da razão que indaga os conteúdos da fé que, como muitas vezes se afirmou, é antes de tudo uma opção de vida com a qual se reconhece a revelação de Jesus Cristo como fonte e fim da própria busca de sentido. Confiar-lhe a nossa vida é possível, mas deve ser sinal de uma decisão realizada em plena liberdade. Por força desta liberdade, deve-se ser capaz de compreender e avaliar o conteúdo da fé; e isso depende da própria fé e da dignidade do crente que, de facto, a cada momento, é chamado a saber dar razão da sua opção.


Rino Fisichella, "A fé como resposta de sentido" (ed. Paulinas), pág. 163.

terça-feira, 21 de junho de 2011

21 de Junho de 1908. Morre o compositor russo Rimsky-Korsakov

Rimsky-Korsakov nasceu no dia 18 de Março de 1844 e morreu no dia 21 de Junho de 1908. Fez parte do famoso Grupo dos Cinco, com Mily Balakirev, Aleksandr Borodin, César Cui e Modest Mussorgsky. As suas peças mais conhecidas serão “Voo do moscardo” (ou “Voo do besouro”) e “Scheherazade”. Rimsky-Korsakov é principalmente um grande mestre da orquestração, como está patente na “Abertura da Grande Páscoa Russa”.
Sobre esta peça, lê-se no blogue Reportório (aqui):
A "Grande Páscoa Russa" é a terceira das peças de Korsakov para orquestra - depois do "Capricho Espanhol" e de "Shéhérazade".
Executada em São Petersburgo a 3 de Dezembro de 1888, sob sua própria regência, a peça evoca diversos temas de cantos religiosos do ofício da Páscoa, a partir do dogma cristão da Ressurreição de Cristo.
Em suas "Crônicas de Minha Vida Musical", Korsakov fala sobre a obra:“A introdução bastante longa e lenta de "A Grande Páscoa", sobre o tema "Deus ressuscitará", evocava para mim a profecia de Isaías sobre a ressurreição de Cristo. As cores sombrias do Andante Lugubre parecem representar o Santo Sepulcro iluminando-se no momento da Ressurreição. O começo do Allegro ("Os que odeiam fugirão diante de sua face") fica bem, em harmonia com a alegria que caracteriza a cerimônia ortodoxa: a trombeta solene do Arcanjo alterna-se com o som alegre e quase dançante dos sinos, cortado ora pela leitura rápida do diácono, ora pelo canto do padre que lê no Livro Santo as Boas Novas. O tema "Cristo ressuscitou", que de certa forma constitui o tema secundário da obra, aparece entre o toque dos trompetes e o som dos sinos, formando igualmente uma coda solene. Assim reúnem-se na abertura as lembranças do profeta antigo do texto evangélico, e o aspecto da "alegria pagã" que caracteriza o ofício de Páscoa”.
E porque é sempre divertido o "Voo do moscardo":

O escudo da Trindade

Há dias dizia-se aqui que Tertuliano foi o primeiro a usar a palavra trinitas / trindade para falar de Deus. Entretanto, dei com a versão mais antiga que se conhece do diagrama da Trindade.
Vem num manuscrito de Pedro de Poitiers (1130-1215).
O dominicano William Perault (1190-1271), por seu turno, na obra "Summa Vitiorum" inclui a seguinte ilustração. Ambas as imagens tem como fonte a Wikipedia inglesa (aqui).

Opus Dei e maçonaria em combates silenciosos no Parlamento



No JN de hoje. A piada está em imaginar um Parlamento minado por maçonaria e Opus Dei, cheio de conversas de bastidores, contagens de espingardas e combates secretos. As coisas são mesmo como o jornalista as descreve, com tantas suposições e secretismos, mas com uma maçonaria cada vez menos secreta? E se Mora Amaral for mesmo eleito? Ganha a Opus Dei, numa reviravolta? Espero que no meio disto tudo não se esqueçam do país.


Entretanto (escrevo às 11h30), o Gabinete de Imprensa do Opus Dei veio esclarecer:
Hoje o Jornal de Notícias, na página 5, afirma ter recolhido informações que referem "uma investida" e "movimentações" do Opus Dei no sentido de interferir na eleição do presidente da Assembleia da República. 
Lamentamos que se tenha dado crédito a informações falsas. 
Novamente se recorda que o Opus Dei é uma instituição da Igreja Católica, integra a missão evangelizadora da Igreja, propõe a pessoas de todas as condições sociais um caminho de encontro com Deus na vida quotidiana, não tem agenda política, e não interfere no comportamento político individual.

Demasiado medo

Se a Igreja quer ser testemunha da alegria da Ressurreição, nós temos de permanecer libertos do medo. Há demasiado medo na Igreja - medo da modernidade, da complexidade da experiência humana, de dizer o que realmente acreditamos, medo uns dos outros, medo de nos enganarmos, de não alcançar aprovação. É este medo que pode, por vezes, apagar aquela alegria que deveria intrigar as pessoas e levá-las a interrogar-se sobre o segredo das nossas vidas.


Timothy Radcliffe na pág. 103 de "Ser cristão para quê?" (ed. Paulinas)

segunda-feira, 20 de junho de 2011

20 de Junho de 1214. O legado do Papa dá Carta a Oxford

"O Senhor é a minha luz", dizem as armas da Universidade de Oxford

A partir do momento em que Henrique II, rei de Inglaterra (1154-1189) proibiu que estudantes e professores ingleses estudassem ou ensinassem na Universidade de Paris, a Universidade de Oxford deu um salto no seu desenvolvimento.

No entanto, em 1209 dá-se um caso que provocou uma grande fuga de cérebros que veio dar origem à Universidade de Cambridge e pôs em perigo a mais antiga. Populares resolvem perseguir um estudante acusado de violação. O estudante consegue escapar, mas não dois dos seus colegas, que são enforcados. Sem muitos dos professores, Oxford definha, pelo que resolvem apelar ao cardeal Nicolau de Romanis, legado papal que estava em Londres para resolver uma disputa interminável sobre o novo arcebispo de Cantuária.

O cardeal resolve a questão dando uma carta à Universidade de Oxford em que estipula que o chanceler deve ser designado pelo bispo de Lincoln e que os académicos devem ter o seu próprio tribunal. Graças à carta, estudantes e professores começam a regressar e Oxford pode crescer em influência e prestígio.

Agnóstico e ateu

Sabedoria vitoriana

Hugo escreve a obra "Didascalicon" ("Sobre o ensino")

"Aprende de bom grado de todos o que não sabes. Será mais sábio que todos aquele que terá querido aprender algo de todos. Quem recebe algo de todos, acaba por se tornar mais rico do que todos".


Hugo de São Vítor (porque viveu na Abadia de São Vítor, em Paris, onde morreu em 1141)

O hábito faz a freira - é o que querem dizer?



"As postulantes, as noviças e as professas, para poderem participar [no encontro com o Papa, no dia 19 de Agosto, em Madrid, no Pátio dos Reis, no mosteiro do Escorial, no decorrer da Jornada Mundial da Juventude], terão que vestir o seu respectivo hábito". O aviso vem no sítio da JMJ - Madrid (li aqui). Ou seja, muitas irmãs de congregações religiosas que já não usam hábito há décadas, desde a reforma conciliar, ou não vão ver o Papa ou têm de arranjar um hábito. A organização respondeu assim a uma religiosa que contestou a decisão:
No ordenamento vigente da Igreja, os membros de institutos religiosos devem usar hábito. 
O hábito religioso deve ser uniforme para todo o instituto. Admite-se o pluralismo no tecido e na cor (preto, cinza, branco), segundo as exigências dos lugares. 
Esperamos que você possa compreender isso e verá a experiência gozosa dessa manifestação pública do que significada no mundo a vida consagrada religiosa, também no modo de se identificar em uma sociedade com tantos sinais de secularismo.
Espero que isto seja um episódio inconsequente. Mas revela uma teologia de afastamento e oposição ao mundo que recorda coisas bem piores. Tem uma ideia ingénua do mundo, como se ele esperasse este tipo de sinais. E tem pouco sentido pastoral, pouco respeito pelas freiras que nunca usaram um hábito. É lamentável que o protocolo papal imponha este tipo de coisas.

Novas do céu

Diz-se que é no dia 29 de Junho (nos 60 anos da ordenação de padre de Bento XVI) que o novo portal informativo do Vaticano vai entrar em funcionamento. Para já, só em inglês e italiano. E depois do Verão também em português, francês e espanhol.

Eu espero pela forma


Deixai o caos bramar!
Deixai as formas das nuvens enxamear!
Eu espero pela forma.

Robert Frost (1874-1963)

domingo, 19 de junho de 2011

Blaise Pascal faz hoje 388 anos

Blaise Pascal nasceu no dia 19 de Junho de 1639. Recordei-o aqui no ano passado, sem esquecer o argumento da aposta (aqui).


Sabedoria Pascal para qualquer ocasião

O último esforço da razão é reconhecer que existe uma infinidade de coisas que a ultrapassam.


Poucas amizades subsistiriam se cada um soubesse aquilo que o amigo diz de si nas suas costas.

Normalmente, convencem-nos com mais facilidade as razões que nós próprios encontramos do que as que vieram ao espírito dos outros.

Fazer troça da filosofia, é, na verdade, filosofar.

Tudo o que sei é que devo morrer em breve; mas o que mais ignoro é essa mesma morte, que não saberei evitar.

A natureza tem perfeições que mostram que é a imagem de Deus, e defeitos que mostram que é apenas a imagem.

Há duas espécies de homens: uns, justos, que se consideram pecadores, e os pecadores que se consideram justos.

O homem não é nem anjo nem animal, e a infelicidade exige que quem pretende fazer de anjo faça de besta.

O que é o homem na natureza ? Um nada em comparação com o infinito, um tudo em face do nada, um intermediário entre o nada e o tudo.

O silêncio é o maior dos martírios; nunca os santos se calaram.

Quando considero a duração mínima da minha vida, absorvida pela eternidade precedente e seguinte, o espaço diminuto que ocupo, e mesmo o que vejo, abismado na infinita imensidade dos espaços que ignoro e me ignoram, assusto-me e assombro-me de me ver aqui e não lá. Quem me pôs aqui? Por ordem de quem me foram destinados este lugar e este espaço?

Tomás sobre o erro pequeno

No "Público" de hoje, num texto de opinião contra o Acordo Ortográfico, de Francisco Miguel Valada, cita-se Tomás de Aquino:


Quia parvus error in principio magnus est in fine.


Um pequeno erro no princípio dá um grande no no fim.

Bento Domingues: A raiz de todos os males

Bento Domingues no "Público" deste domingo. "Até gostava de uma sociedade democrática como a Santíssima Trindade: pessoas todas iguais, todas diferentes, todas activas, sem subordinação entre elas e que a própria oposição de relações é de perfeita harmonia; seria um céu na terra!"

E o primeiro que usou a palavra Trindade foi...

Hoje é dia da Santíssima Trindade.


E dia de recordar Tertutiliano (165-212), um teólogo africano, de Cartago, provavelmente leigo, que no final aderiu à seita/heresia do montanismo.


Tertuliano, convertido que dizia que "não se nasce cristão, torna-se", foi o primeiro a usar a palavra "trinitas" aplicada a Deus, como complemento a "unitas". Unidade e trindade.


Dois esquemas clássicos para explicar o que está para além da razão:




Sabedoria beneditina

Pedro, o Venerável (1092-1156), prior de Cluny, dizia: "Pode-se obter mais de um homem tolerando-o, do que irritando-o com queixas".

Sinodalidade e sinonulidade

Tenho andado a ler o que saiu no sínodo e suas consequências nacionais, diocesanas e paroquiais. Ia para escrever que tudo se resume à imple...