quinta-feira, 2 de agosto de 2018

"Custa-me tanto olhar para os padres..."

Penso que em Portugal não temos bem a noção da catástrofe que é a pedofilia, não só para as pessoas que a sofreram, mas também para a Igreja. Pior, ainda, é que a situação não está a ser verdadeiramente resolvida, apesar dos esforços papais. Nunca será resolvida, na minha opinião, enquanto se mantiver a sacralização da sexualidade dos clérigos, a par com a cultura do segredo e a obediência à autoridade.

Mas as denúncias e demissões noutros países também fazem mossa em Portugal. Há tempos, alguém me dizia, e não era nenhum ateu, era uma pessoa de prática católica coerente: "Custa-me tanto olhar para os padres..."

Gianni Vattimo já reza as Completas

Agora, Gianni Vattimo já reza as Completas. Aqui.


Agora, Senhor, segundo a vossa palavra,
deixareis ir em paz o vosso servo,
porque meus olhos viram a salvação, 
que oferecestes a todos os povos:
luz para se revelar às nações
e glória de Israel, vosso povo.

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Uma questão de visão, talvez

D. Carlos Azevedo diz que a nomeação de D. António Marto para cardeal tem mais a ver com a visão dele (do nomeado) da Igreja do que com a ligação a Fátima. E alguém muito por dentro da conferência episcopal portuguesa, sem ser bispo, diz-me que é para D. António Marto fazer ver as suas posições reformistas, opondo-se a D. Manuel Clemente, tido como paralisado, e marcando terreno para ser sucessor na liderança da CEP. Eu, por mim, fico admirado como conseguem ver tanta ação reformista em D. António Marto. Talvez eu esteja a procurar mal, porque ainda não vi nada.

quarta-feira, 27 de junho de 2018

O barrete do príncipe da Igreja

Visto que D. António Marto recebe amanhã um barrete de príncipe da Igreja, lembrei-me de uma canção de outro príncice que fala de um barrete. Aqui vai:

D. Manuel Clemente sobre D. António Marto


D. Manuel Clemente:

O novo cardeal [D. António Marto] é expressão eloquente desta geração, no que diz e no modo como atua. O seu percurso pessoal, da aldeia natal ao seminário, da experiência fabril ao estudo romano, do magistério universitário aos sucessivos cargos episcopais (em Braga, Viseu e Leiria-Fátima), representa na Igreja em Portugal o melhor do que essa geração nos trouxe e continua a trazer.


Ler tudo aqui.

D. António Marto vai receber o barrete amanhã, no Vaticano. É o sétimo da lista. Espero que faça bom uso dele, do barrete e do cadinalato.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Como viver biblicamente

Outro documento como o do limbo? Deus queira que não

O Vaticano publica amanhã um documento sobre alguns aspetos da salvação.  Se for como o de 2007,  sobre o limbo, que afirma que...

...“existem fortes razões para esperar que Deus salvará essas crianças, já que não se pode fazer por elas o que se teria desejado fazer, isto é, batizá-las na fé e na vida da Igreja”...

...mais vale não publicarem nada.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

O casamento no tempo de Jesus e no nosso

Isto não é para justificar o laxismo no casamento católico. É para questionar a continuidade do casamento cristão em relação ao casamento no tempo de Jesus. Quero sempre compreender melhor as palavras, valores e opções de Jesus, que são verdadeiramente libertadoras e apelam à soberania de Deus em todas as coisas. Também no casamento. E no recasamento, já agora.
Casamento no tempo de Jesus
- A poligamia era frequente (e ao contrário do que dizem os comentadores, também servia como metáfora da relação de Deus com o povo de Israel e Judá)
- O casamento de duas pessoas resultava do arranjo entre duas famílias
- As pessoas casavam por vontade dos pais; talvez a seguir viesse o amor entre o casal
- As meninas podiam ser dadas em casamento a partir dos 5 anos; 20 anos era o limite para se casar
- A mulher passava de uma família alargada para outra alargada, ficando no círculo das mulheres da nova família
- Quantos mais filhos, melhor; eram força de trabalho e segurança na velhice
- A esterilidade era uma maldição de Deus (hoje sabe-se que, em parte, era porque as meninas casavam-se impúberes) e era sempre da mulher
- A edução dos filhos era feita por um círculo alargado de pessoas, geralmente os tios
- O divórcio existia de acordo com a lei de Moisés e acontecia por vontade do homem (perece que em algumas comunidade helenizadas a mulher podia pedir o divórcio)
- No divórcio, a mulher ficava sempre com a pior parte: a família de origem sentia-se desonrada; a mulher ficava numa situação de desproteção (abandonada pela família do marido e geralmente ostracizada pela família de origem) e era criticada socialmente pelo divórcio
- No adultério não havia reciprocidade nem igualdade. Explico-me. Entendia-se que um homem (solteiro ou casado) só cometia adultério quando tinha relações com outra mulher casada (porque estava em causa o bem de outro homem). A mulher casada cometia adultério em qualquer situação (porque estava em causa o bem do seu homem). El qualquer situação, nunca está em causa o bem da mulher. Só do homem.

Hoje
- Não é permitida a poligamia
- O casamento é entre duas pessoas livres, independentemente da família
- O casamento dá-se por amor (na realidade, para a Igreja, o amor é indiferente; só conta a vontade)
- O casamento só pode acontecer a partir dos 16, 18 anos? Nem sei… Mas idade mudou. 20 anos é cedo.
- A mulher e o homem formam uma nova família
- Os filhos são tidos como despesa, pelo que poucos querem ter muitos
- A esterilidade nunca é uma questão de maldição de Deus; e pode ser do homem, da mulher, de ambos, de nenhum deles
- Os pais são os responsáveis pela educação dos filhos
- O divórcio civil pode acontecer por mútua vontade
- O divórcio, hoje, tem leis para proteger ambas as partes e os filhos
- O adultério é reciproco (apesar dos machismos todos que ainda existem).
Posto isto, tenho muitas dúvidas que a proibição do divórcio por Jesus (que em contexto judaico é essencialmente uma defesa da mulher e um meio de evitar o ódio entre clãs e famílias) tenha algo a ver com a indissolubilidade do casamento católico.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Os legionários, os arautos, os sodalícios, os malteses, os imaculados... todos diferentes, todos muito iguais nos lados obscuros, nas trapalhadas, nas obsessões dos seus dirigentes.

domingo, 31 de dezembro de 2017

Fim de ano: Tu

Como cantavam os judeus da Europa central, mesmo quando eram perseguidos:

Onde quer que eu vá, Tu,

onde quer que eu me detenha,
Tu, só Tu, ainda Tu, sempre Tu.
Céu, Tu, terra, Tu.
Para onde quer que eu me volte e admire,
só Tu, ainda Tu, sempre Tu.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Maradiaga

A ser verdade o que se diz de Maradiaga, que alguns apontavam como papabile, até já antes de Bento XVI, nem sei o que pensar. É um dos golpes mais duros à credibilidade dos homens da Igreja, desde há muito.

(no dia 26 de dezembro)
Mas... 

http://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2017-12/papa-telefonema-maradiaga.html#.WkKGuWpT3Ys.facebook

“Até o Santo Padre me disse que ‘sente muito por todo o mal que me fizeram’. Eu estou em paz porque estou com Jesus, que conhece o coração de cada um”.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Paisagem árida

"O ateísmo é uma paisagem árida demais para que se viva nela muito tempo", escreveu Paul Arden.

Quando um ateu ou agnóstico me diz
- pois, mas vocês acreditam em algo, têm uma vantagem, sempre têm algo que vos ajude...
tenho de lhe responder
- não é uma vantagem, é um fraqueza; infelizmente não somos tão autossuficientes ou autoconfiantes como vocês.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Semana dos Seminários

Parece que se dizem agnósticos (ou o mais conhecido deles). Mas a simbologia católica (sim, mais católica do que simplesmente protestante ou cristã) aparece com alguma frequência nos Green Day. Agora a capa do último disco.

domingo, 12 de novembro de 2017

Lucas 15, a esquerda e a direita

Tem piada o artigo de Inês Teotónio Pereira, "A esquerda que queremos ser", no DN de ontem.

"Somos [os da direita] aquele irmão que ficou em casa a servir o pai mas não tem direito a um banquete em sua honra. Não, o carneiro mais gordo é para ser servido ao delinquente de esquerda que só faz asneiras, que é irresponsável, manipulador, arrogante e que nem sabe pedir desculpa. E nós, que sempre nos portámos bem, que nunca gastámos mais dos que podíamos, que cumprimos as regras todas, que nem uma escutazinha mais atrevida temos para dar ao CM, meu Deus, não recebemos sequer um apertãozinho na bochecha, uma festinha na cabeça, vá".

Ler tudo aqui.

A violência que dá alegria

Se a princípio fizermos um pouco de violência, tudo faremos depois com facilidade e alegria.

Imitação de Cristo, XI, 5d


sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Rui Ramos e a metáfora religiosa da Web Summit

Rui Ramos também usa a metáfora religiosa para falar da Web Summit. Está lá tudo:


peregrinação religiosa 
fiéis 
templos 
hierarquia 
em carne ou em imagem
mensagens 
meditações
capelinhas
paróquia 
cerimónias,
liturgias
encíclicas
crentes
sacerdotes do culto
iluminados
mundo novo

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Refletir ainda não é rezar

Não deixa de ser curioso que ao mesmo tempo que, com algum deslumbramento, se apresenta o Click to Pray na web Summit (o Click to Pray é para rezar online com o Papa), o Papa diga:

“A Missa não é um espetáculo: é ir ao encontro da Paixão e da Ressurreição do Senhor. Por este motivo é que o sacerdote diz «corações ao alto». O que é que isso quer dizer? Lembrem-se: nada de telemóveis”.

Evidentemente, o "nada de telemóveis" refere-se ao uso de telemóveis na celebração, não ao uso para ver a celebração (se estiver a ser transmitida), nem ao uso deles para rezar.

Mas a minha questão é: pode-se mesmo rezar pelo telemóvel, pelo pc, pelas redes sociais, clicando e acendendo velinhas digitiais? Presumo que sim. Alguns fazem-no.

Mas soa-me sempre a "isto não é bem oração". Pelo menos é o que sinto, estando inscrito em algumas dessas coisas, fazendo douwnloads, clicando aqui e ali, rezando enquanto caminho ou faço outras coisas, como propõe um dos sites.

Suponho que há infoincluídos que dão valor à coisa. Não é o meu caso. Não cola. Refletir - e já não é mau - ainda não é rezar. Não consigo ver uma missa online sem me apetecer fazer outras coisas mais interessantes e úteis, relacionadas com a fé cristã (ler a Bíblia, por exemplo). Rezar enquanto se faz outra coisa faz sempre lembrar aquela tirada entre um noviço e um superior:

- Posso fumar enquanto rezo?
- Claro que não. A oração exige concentração.
Outro noviço ouve a conversa e diz:
- Palerma. Devias antes ter perguntado se podes rezar enquanto fumas.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

O fervor religioso da Web Summit

João Miguel Tavares, no Público de hoje, diz que a Web Summit desperta

“fervor religioso”.

E que os bilhetes são caros e alguns mesmo muito caros, talvez porque quanto mais caro for o bilhete,

“mais perto o feliz proprietário poderá estar do seu herói tecnológico – quem sabe até tocar-lhe no manto, à espera de um milagre digital”.

Diz ainda que

“a Web Summit é a Igreja Universal do Reino da Tecnologia, e Cosgrave o seu pastor”.

E, for fim, que



“a Web Summit vende sonhos mas não faz milagres”.

Se calhar, no seu texto falou mais de religião do que  o apresentador da plataforma digital ‘Click to Pray’, criada pelo Apostolado de Oração em Portugal e que hoje também está na Web Summit.

Uma explicação. Aquela referência ao manto tem a ver com a mulher que sofria de hemorragias e pensa "Se ao menos eu tocar na roupa de Jesus, ficarei boa". No meio da multidão, ela consegue, de facto, tocar em Jesus. E fica curada. Jesus sentiu um poder a sair dele, vira-se para a multidão e pergunta:
- Quem é que me tirou o wi-fi?
Marcos 5,25-30

Sinodalidade e sinonulidade

Tenho andado a ler o que saiu no sínodo e suas consequências nacionais, diocesanas e paroquiais. Ia para escrever que tudo se resume à imple...