sexta-feira, 1 de novembro de 2013

National Security Agency antecipa-se ao Espírito Santo?


Ao ler a notícia de cima, no "Metro" de ontem, numa primeira reação, pensei: "Não me digas que os EUA imaginavam que iriam eleger Francisco". Ou: "A NSA antecipou-se ao Espírito Santo". Pensamentos frívolos, mais do que insensatos. A NSA espiou (espia?) muita gente, aos milhões. Milagre seria se Bergoglio tivesse escapado.

A tira aqui em baixo é do "Público" de ontem.


Exercício para quem gosta de livros

Diz o padre António Rego no livro "Quando a Igreja desceu à terra" (Princípia), de António Marujo, sobre os 50 anos do II Concílio do Vaticano (pág. 28):

"Quando percorro a minha biblioteca e vejo os livros que adquiri ao longo destes últimos 50 anos, noto que há lá livros vivos e mortos. «Mortos» são os «datados», presos a estilos passageiros que nem se situaram no património cultural e espiritual, nem abriram qualquer fresta ao futuro".

António Rego refere-se ao livros de teologia, pastorais, de reflexão cristã. Mas seria um exercício curioso passar pelas estantes pessoais e ver quais os livros vivos e os mortos. Há livros claramente vivos. Há outros evidentemente mortos, mesmo mortos, que poderiam desaparecer sem qualquer prejuízo. E há os mortos que podem ressuscitar num momento qualquer. O mortos costumam ser enterrados quando se muda de casa, por exemplo. A não ser que haja uma esperança na ressurreição final de todos os monos. Tendo mudado de casa várias vezes, confesso que são muito poucos os livros mesmo mortos-mortos. Nos datados", que são os "mortos" de António Rego, vejo sempre qualquer coisa que ainda fumega.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Bento XVI triste por desconfiarem do seu amigo Gotti Tedeschi


A revista "Sábado" de hoje, reportando-se a uma entrevista do secretário de Bento XVI, diz o que ouvi alguns jornalista mais avisados dizerem: "Que Bento XVI já não tinha mão naquilo". Provavelmente nunca teve. Ele era mais livros e menos política. 

O que disse mesmo o secretário a 23 de outubro:

É verdade que o Papa Ratzinger foi mantido às escuras sobre a expulsão de Gotti Tedeschi do IOR?
 
Eu me lembro bem desse momento. Era o dia 24 de maio. Naquele dia, houve também a prisão do nosso mordomo Paolo Gabriele. Ao contrário do que se pensa, não houve nenhum nexo entre os dois eventos, mas sim apenas uma infeliz coincidência, até mesmo diabólica. Bento XVI, que tinha chamado Gotti para o IOR, para levar adiante a política da transparência, ficou surpreso, muito surpreso pelo ato de desconfiança para com o professor. O papa o estimava e o queria bem, mas, por respeito às competências de quem tinha responsabilidade, ele optou por não intervir naquele momento. Depois da desconfiança, o papa, por motivos de oportunidade, embora nunca tenha recebido Gotti Tedeschi, manteve os contatos com ele de modo adequado e discreto. (Ler a entrevista toda aqui.) 
Como o nome de Ettore Gotti Tedeschi já por este blogue andou várias vezes, fui ver o que escrevi sobre ele. Já não me lembrava e não me imaginava tão informado em 25 de novembro de 2010:

Que as suspeitas tenham surgido após a visita ao Reino Unido, quando Ettore Gotti Tedeschi (...), um homem da confiança do Papa alemão, tem feito um trabalho notável à frente do IOR, leva a pensar no que já tem sido adiantado mais à boca fechada do que às claras: mais uma tentativa para atingir Bento XVI.

(Ler tudo aqui.)

Google Earth apanha Jesus e Maria


O Google Earth apanhou isto e dizem que é (leia-se: parece) "Jesus e Maria" (aqui). Jesus e Maria? Ou antes José e Maria?

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Deserto


O teólogo norte-americano Adam Kotsko diz que “Zisek ainda não encontrou um interlocutor teológico que possa desafiá-lo de uma maneira produtiva”. E ainda: “Espero que alguém se levante para preencher esse papel, porque é muito raro que um filósofo contemporâneo tenha qualquer interesse na teologia contemporânea”. Pois. Mas quem? Com Milbank, anglicano, a coisa foi mais dois monólogos paralelos do que diálogo. Com o reformado Moltmann? E os teólogos católicos da contemporaneidade? Onde estão eles? Entrevista dom Adam Kotsko aqui.

Sobre Zizek, ainda muito na moda, há algumas coisas por aqui.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Bento Domingues: "Não fechar o futuro"

Texto de Bento Domingues no "Público" de ontem.

Qual o conhecimento que mais implica o conhecedor?

Andando e ler a "Lumen Fidei", intermitentemente e ao sabor de outras intenções que não o puro gosto em ler o documento do princípio ao fim, encontro este ponto que responde àquela velha questão de se se pode ser teólogo sem ser crente (negrito meu):
36. Como luz que é, a fé convida-nos a penetrar nela, a explorar sempre mais o horizonte que ilumina, para conhecer melhor o que amamos. Deste desejo nasce a teologia cristã; assim, é claro que a teologia é impossível sem a fé e pertence ao próprio movimento da fé, que procura a compreensão mais profunda da autorrevelação de Deus, culminada no Mistério de Cristo. A primeira consequência é que, na teologia, não se verifica apenas um esforço da razão para perscrutar e conhecer, como nas ciências experimentais. Deus não pode ser reduzido a objeto; Ele é Sujeito que Se dá a conhecer e manifesta na relação pessoa a pessoa. A fé reta orienta a razão para se abrir à luz que vem de Deus, a fim de que ela, guiada pelo amor à verdade, possa conhecer Deus de forma mais profunda.
Esta passagem beneditino-franciscana levou-a a reler um texto de 1989, de grande Martín Descalzo (1930-1991):
Conhecê-lo não é uma curiosidade. É muito mais do que um fenómeno de cultura. É algo que põe em jogo a nossa existência. Porque com Jesus não ocorre como com outras personagens da história. Que César passasse o Rubicão ou não, é um feito que pode ser verdade ou mentira, mas que nada muda o sentido da minha vida. Que Carlos V fosse imperador da Alemanha ou da Rússia, nada tem que ver com a minha salvação como ser humano. Que Napoleão morresse derrotado em Elba ou que tivesse chegado imperador ao fim dos seus dias, não moverá um único ser humano a deixar a sua casa, a sua comodidade e o seu amor e pôr-se a falar dele numa aldeola no coração de África. 
Mas Jesus não, Jesus exige respostas absolutas. Ele a assegura que, crendo nele, o ser humano salva a sua vida e, ignorando-o, a perde. Este homem apresenta-se como “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). Portanto – se isto for verdade –, o nosso caminho e a nossa vida mudam segundo a nossa resposta à pergunta sobre a sua pessoa. 
E como responder-lhe sem conhecê-lo, sem se ter aproximado da sua história, sem contemplar os segredos da sua alma, sem ter lido e relido as suas palavras?

domingo, 27 de outubro de 2013

Bento Domingues: "Qual o papel das mulheres numa Igreja onde são a maioria?"

Um bocadinho do texto de Bento Domingues no "Público" de hoje:

O que o Papa procura é centrar as suas preocupações na reconstrução de uma Igreja que seja um nós aberto ao mundo. Herdou, porém, uma questão gritante que papas anteriores, com argumentos duvidosos, afirmaram estar definitivamente encerrada. A pergunta sempre adiada é clara: qual o papel das mulheres numa Igreja onde são a maioria? O sinal inequívoco de que entrámos num tempo novo será dado pela resposta que se encontrar, com as mulheres, para esta questão.

sábado, 26 de outubro de 2013

Anselmo Borges: "O mal e Deus: com Valter Hugo Mãe"

Valter Hugo Mãe, Nuno Camarneiro e Anselmo Borges

Texto de Anselmo Borges no DN de hoje:

1. Foi um convite amável e insistente. Para uma conversa com Valter Hugo Mãe. Na Universidade de Aveiro, no dia 8 de Outubro. O tema: Mal.

O que é que se diz sobre o mal? Comecei por recordar que há muitos tipos de mal: o mal físico, o mal moral, o mal metafísico, o mal fora de nós, o mal em nós..., chamando sobretudo a atenção para o facto de, se estávamos ali para essa conversa-debate, é porque nos sentíamos razoavelmente, com algum conforto e sem grandes aflições. Porque, quando o mal se abate sobre nós - um cancro, um terramoto, um tsunami, um filho que se nos morre desfeito em dores e perante a nossa impotência total, quando nos destruímos mutuamente, quando tudo se afunda sob os nossos pés, quando o futuro todo se apaga... -, aí gritamos, choramos, blasfemamos, rezamos..., não debatemos.

Ao longo do tempo, houve tentativas várias de solução para o mal, sobretudo quando nos confrontamos com Deus. Como é que Deus é compatível com todo o calvário do mundo? Lá está Epicuro: ou Deus pôde evitar o mal e não quis; então, não é bom. Ou quis e não pôde; então, não é omnipotente. Ou quis e pôde; então, donde vem o mal? Na sua justificação de Deus, Leibniz concluiu que este é o melhor dos mundos possíveis. Schopenhauer contrapôs: este mundo não passa de uma arena de seres torturados, que sobrevivem devorando-se uns aos outros, ele "é o pior dos possíveis". A solução gnóstica e dualista coloca o mal no interior da Divindade. Há quem pense que devíamos despedir-nos do Deus omnipotente e ir ao encontro do Deus sofredor e crucificado. Segundo Kant, toda a tentativa de teodiceia teórica fracassa.

Penso que é o teólogo A. Torres Queiruga que abre para uma correcta reflexão, ao exigir uma ponerologia (de ponerós, mau): tratar do mal, antes de qualquer referência a Deus, pois o mal atinge todos, crentes e não crentes. Aí, percebe-se que a raiz do mal é a finitude. O mundo é finito e, por isso, não podendo ser perfeito, tem falhas e carências, choques.

Assim, Deus é omnipotente e infinitamente bom. Mas pretender que poderia acabar com o mal no mundo, criando-o perfeito, mas não quer, é uma contradição. Não tem sentido perguntar por que é que Deus não criou um mundo perfeito, pois Deus não pode criar outro Deus. Não se diz que há algo que Deus não pode fazer, apenas se nega uma contradição. Se o mundo inevitavelmente finito não pode ser perfeito, não podemos pretender que Deus o faça.

A pergunta é outra: se o mal é inevitável, porque é que Deus o criou? Aqui começa a pisteodiceia (de pistis: justificação da fé). Há diferentes pisteodiceias, pois todos têm de enfrentar-se com o mal e cada um encontra a sua resposta. O crente religioso também tem a sua: crê em Deus como Amor e anti-Mal e espera a salvação definitiva e plena para lá da morte. Sem Deus, fica-se com o mal e sem esperança, também para as vítimas inocentes.

2. Poucos dias depois, uma jovem senhora, com uma tese académica já pronta, que acabara de sepultar o pai ainda relativamente jovem, telefona-me e eu sinto e ouço as lágrimas a correr e a voz embargada, a tremer e a suplicar, porque também uma irmã acabava de ter um AVC: "É de mais; por favor, reze, por favor reze, a razão não sabe nada, não pode nada..."

E eu lembrei-me das palavras do início em Aveiro: que, perante o sofrimento atroz, as pessoas não debatem, mas choram, gritam, blasfemam, rezam (talvez tudo isto ao mesmo tempo).

E também me lembrei do que escreveu o filósofo agnóstico J. Habermas sobre o último encontro com o filósofo ateu H. Marcuse, que tinha citado: ele "estava na sala de cuidados intensivos de um hospital de Frankfurt, rodeado de aparelhos nos dois lados da cama. Nesta ocasião, que foi o nosso último encontro filosófico, Marcuse, em conexão com a nossa discussão de dois anos atrás, disse-me: "Sabes? Agora sei em que é que se fundamentam os nossos juízos de valor mais elementares: na compaixão, no nosso sentimento pela dor dos outros"".

Estou convicto de que, nisto, quanto à compaixão, Valter Hugo Mãe estará totalmente de acordo comigo.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Belo texto

Estou a ler, aos pouquinhos, como quase tudo ultimamente, a "Lumen fidei", a encíclica de Bento XVI, perdão, Francisco. Só agora. Devido à dupla paternidade, está a passar despercebida, parece-me. Não me recordo de Francisco a ter citado, como costumava ser normal nos discursos papais. Nem se vêm por aí grandes incentivos à sua leitura. Nem os bispos a citam como costumam citar outros documentos papais recém-aparecidos. Mas é um belo texto. (Vou entrar no terceiro capítulo.) Indispensável para quem pensa sobre fé, razão, verdade, teologia, Igreja. Para pôr bem juntinho à "Fides et ratio". Que, afinal, teve como principal redator o mesmo Ratzinger.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Ouro, incenso e mitra

O bispo do luxo, li na "Sábado", gostava de brocados de ouro e de celebrações com incenso. Tem mitra, mas falta a mirra.

Será verdade?

Porque é que os ateus não conseguem inspirar-se na cultura com as mesma espontaneidade e rigor que os religiosos aplicam aos seus textos sagrados?

Alain de Botton, pág. 109 de "Religião para Ateus"

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Adeus, bispo gastador. Olá, equipa de críquete

O bispo de Limburgo (Alemanha), que gastou 31 milhões de euros na sua residência episcopal, foi afastado temporariamente da sua diocese. Li aqui. O "Dinheiro vivo" há tempos escreveu sobre este senhor. Ler aqui.


Entretanto, diz uma notícia que o

Vaticano funda equipa de críquete e desafia Igreja de Inglaterra

Assim de repente, a gente lê e não acredita. Mas a notícia explica e lá se compreende.
Irá realizar-se um campeonato que será disputado por equipas de padres e seminaristas de instituições católicas em Roma. Depois de jogarem entre si num torneio “Twenty20”, os melhores jogadores são seleccionados para o “Vatican XI”, a equipa do Vaticano, e vão desafiar a Igreja de Inglaterra para que também forme uma equipa para disputar um jogo no Lord’s, o estádio mais célebre da modalidade, em Londres. Ler aqui.
É algo tão ridículo como a Clericus Cup. É desporto universitário e mais nada. Não sei por que é que o país do Papa se mete nestas coisas.

Uma teologia que não seja eclesial é...

Uma teologia que não seja eclesial é de aventureiros da inteligência, não de servidores do Altíssimo preocupados com a salvação dos homens...

Bruno Forte

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Bónus de pinças e chapa elétrica

A verdade é que somos frágeis a manter os nossos compromissos e sofremos de uma fraqueza de vontade em relação aos contos da sereira da publicidade, sejamos a criança irascível de três anos encantada com a visão de uma quinta de brincar com um canil insuflável, sejamos um adulto de 42 anos cativado pelas possibilidades de um grelhador com um bónus de pinças e chapa elétrica.

Alain de Botton, pág. 89  de "Religião para Ateus"

Bento Domingues: "De quem é a doutrina social da Igreja?"

No "Público" de ontem.

domingo, 20 de outubro de 2013

Bento Domingues: "De quem é a doutrina social da Igreja?"

Conclusão do texto de Bento Domingues no "Público" de hoje:

Ao regressar à eclesiologia do Vaticano II, o Papa Francisco não se cansa de repetir que a Igreja somos todos nós. Sendo assim, a DSI terá de resultar das respostas que a pluralidade das comunidades cristãs, situadas em culturas diferentes, souberem dar a antigas e novas perguntas: que fizeste do teu irmão? Que economia é essa que tem no centro o culto idolátrico do dinheiro e exclui os doentes, os idosos, os jovens e as crianças? Que religião é esta que reza o Pai-Nosso e tem uns irmãos à mesa e outros à porta? 
E se trocássemos umas ideias sobre isto? 

sábado, 19 de outubro de 2013

Anselmo Borges "Ateísmo, agnosticismo, teísmo"

Texto de Anselmo Borges no DN de hoje:


A modernidade tem como característica fundamental a nova visão científica da realidade. A problemática é de tal modo decisiva que o filósofo e teólogo Javier Monserrat advoga a convocação de um Concílio para confrontar a fé com esse novo dado - ver "Hacia el Nuevo Concilio", de onde partem as reflexões que se seguem.

Alguns resultados estão alcançados. 1. Para a ciência actual, o universo todo, incluindo a consciência, "produziu-se pelas propriedades ontológicas e dinâmicas da matéria que foi produzida no big bang com altíssima densidade e energia". 2. Estamos em presença de um mundo real e aberto. 3. Este mundo aparece-nos ordenado finalisticamente. Trata-se de uma "ordem viva" e "ordem antrópica". De qualquer modo, apresenta-se como um mundo enigmático, sendo possíveis três conjecturas metafísicas: ateísmo, agnosticismo, teísmo.

Os autores ateus "mostraram que entender a consistência eterna de um universo sem Deus é possível". A ciência pode, segundo algumas teorias, conceber a auto-suficência do universo, "a sua consistência e estabilidade dinâmica num tempo eterno, sem fim".

Perante a impossibilidade de a ciência resolver com certeza as questões últimas, de ordem metafísica, o agnosticismo assume a ausência de resposta: trata-se de "um incompromisso filosófico". Respeita tanto o ateísmo como o teísmo. Provavelmente a percentagem de agnósticos é hoje muito mais elevada do que a dos ateus.

O ateísmo não pode ser excluído como "teoria possível". Mas o ateísmo não é evidente. Se o fosse, não haveria teístas, do mesmo modo que, se o teísmo fosse uma evidência, não haveria ateus. Perante um mundo obscuro e enigmático, tanto o ateísmo como o teísmo constituem uma "fé filosófica", uma "crença".

Também o teísmo apresenta razões para argumentar a favor da existência de Deus. Já não se trata de "demonstrar", mas de mostrar que a razão científico-filosófica torna verosímil a existência de Deus: "uma certeza moral livre da existência de Deus". 1. A hipótese de um Deus transcendente e criador enquanto fundamento da consistência, estabilidade e suficiência de "um universo que começa no tempo (a grande explosão) e que previsivelmente acabará numa morte energética e na sua dissolução final" surge como a mais verosímil. É defensável a hipótese de que "o fundamento do ser, a verdadeira realidade auto-suficente em si mesma e eterna, seja um ser divino transcendente que - com intencionalidade - "cria", "funda" o universo visível no seu fluir temporal finito". 2. O universo que autonomamente produziu a ordem física e biológica, conducente à liberdade, torna verosímil um desígnio racional de Deus enquanto criador. O teísmo actual não aceita o Deus tapa-buracos, mas, precisamente ao reflectir sobre a ordem "quase-racional" constatável, e, portanto, sobre as propriedades da matéria e as leis evolutivas que permitem produzir autonomamamente a ordem psicobiofísica e a sua orientação antrópica - porquê estas propriedades e leis e não outras? - ,constata que esta ordem, congruente com um fim inteligível, "torna verosímil a hipótese de que poderia estar causada pelo "desígnio" racional de uma Inteligência Criadora." 3. Esta verosimilhança é confirmada e aprofundada, quando se constata que o processo evolutivo dá origem no seu termo a seres humanos enquanto pessoas autoconscientes e livres. Não é mais razoável e inteligível o processo, se na sua raiz e como sua Causa está o Deus transcendente e pessoal, que cria livremente por amor? O teísmo actual "assumiria a superação do dualismo e identificar-se-ia com a lógica do emergentismo, incluindo a emergência do psiquismo humano, da razão e da sua especial abertura à Divindade", "que abarca o universo e o contém criativamente no seu interior". Este universo é um "universo para a liberdade", a partir de um "desígnio para a liberdade" e, portanto, do "princípio antrópico cristão", embora não se imponha como inevitável a "solução divina".

Tanto o ateísmo como o teísmo têm na base uma crença ou uma fé, com razões, devendo, portanto, ateus, agnósticos e teístas respeitar-se e dialogar.

Sinodalidade e sinonulidade

Tenho andado a ler o que saiu no sínodo e suas consequências nacionais, diocesanas e paroquiais. Ia para escrever que tudo se resume à imple...