domingo, 31 de maio de 2009

A católica reencarnacionista

“Notícias TV – Qual a sua religião?

Teresa Guilherme – Católica. Acredito da reencarnação.”

Notícias TV, 29-05-2009


Numa entrevista a uma figura do meio mediático (!), teria cabimento o entrevistador insistir: “Como pode ser? Não está a confundir com a ressurreição?” Ou “Mas pode-se ser católica e aceitar a reencarnação?” Ou “Explique melhor a sua fé…”?

A pergunta sobre religião, nas entrevistas, de um modo geral, é apenas o desejo de colocar um rótulo no entrevistado. Ela disse que é católica e há logo um mundo que fica arrumado. Mas se dissesse outra coisa qualquer que não “católica”, decerto surgiriam outras questões. Se fosse budista, então...

E o entrevistador que apenas pergunta pela religião, sem avançar com uma segunda pergunta mais esclarecedora, não revela que de religião conhece apenas os rótulos?

Os porcos e o fundamentalismo

No Egipto, os islâmicos, e em especial os fundamentalistas, andaram em confrontos com os cristãos coptas, que têm porcos. Der uma maneira geral, não há porcos nos países de maioria islâmica. A carne suína é proibida pelo Islão (tal como no judaísmo). No Afeganistão só há um porco. Está o jardim zoológico de Cabul (oferta da China). Foi posto de quarentena por causa do H1N1 (DN, 29-05-2009).

Inspirações - 3

Nuno Madureira, no Diário de Notícias (29 de Maio de 2009), dá como título à sua crónica “O evangelho segundo são Pep”. Refere-se, claro, a Pep Guardiola e ao seu sucesso como treinador do Barcelona que, de acordo com o texto, resulta da posse de bola. “Para nós, não ter a bola é um desastre”, disse Guardiola. Porém, segundo Madureira, Guardiola é apenas um segundo evangelista. O primeiro foi Cruijff, que chegou a Barcelona em 1973 e conduziu o dream team à primeira Taça dos Campeões, em 1992. Pep e Rijkaard são, diz Madureira, “os seus filhos espirituais”.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Inspirações - 2

Sobre a “cavalgada fiscal” que de repente surgiu na campanha para o Parlamento Europeu, Helena Matos escreveu no Público de 28 de Maio: “Nós ainda não sabemos o que nos vai acontecer, mas tal como Cristo e Marx também não devemos ficar lá muito bem”.

Francisco José

Francis Joseph Spellman (4 de Maio 4 de 1889 — 2 de Dezembro de 1967) foi arcebispo de Nova Iorque de 1939 até à sua morte. Em 1946 foi elevado a cardeal. Resignou aos 75, mas Paulo VI pediu que continuasse. Foi o arcebispo que mais tempo esteve nesta arquidiocese americana (28 anos). Durante este período, Nova Iorque cresceu extraordinariamente em infra-estruturas como escolas, igrejas e hospitais.

O Cardeal na revista

Este texto veio daqui. O autor é um tal Datucho (?).

Na secção de recensões, da revista americana ‘Commonweal’, vinha incluido o livro que o Cardeal Spellman, arcebispo de Nova York, réplica do nosso Cerejeira, havia publicado na altura (1951), com a louvável finalidade de ajudar uma instituição de caridade. O livro intitulava-se ‘The Foundling’ (’A criança enjeitada’).  Spellman era considerado também como literato no meio católico americano Curiosamente o nosso cardeal Cerejeira não só passava por erudito e grande humanista como o era inegavelmente. Ora lembra-me ter ficado com olhos em bico quando li a crítica ao livro de Spellman. O autor arrasou o romance ou a ‘novel’ de Spellman, concluindo que não só no plano de construção romanesca, como literário, o livro era uma mediocridade.  Sic! Isto era mesmo América livre. Anos mais tarde, já na década de 80, frequentava eu a biblioteca americana, na altura situada na Rua Duque de Loulé, em Lisboa. A minha leitura favorita era uma revista que dava pelo nome de ‘Library Journal’, uma revista muito conceituada.  Esta revista cobria um vasto leque de publicações editadas, publicações que vinham acompanhadas de apreciação crítica por pessoas criteriosamente seleccionadas.  Calhou. na secção de ‘Biografias’ eu ver incluido um livro que era a biografia do Cardeal Spellman. O biógrafo acusava Spellman de homessexual, acrescentando que na residência do Cardeal, a ‘entourage’  toda  o sabia, mas fazia vista grossa. E é interessante que o autor da recensão crítica elogiava o biógrafo por não ter encoberto as fraquezas do biografado sob o manto de reverência!

Sonia Sotomayor

Sonia Sotomayor, primeira mulher de origem latina a ser nomeada para o Supremo Tribunal dos EUA, fazia diariamente oito quilómetros para frequentar o liceu católico Cardeal Spellman. A sua turma foi a primeira a misturar rapazes e raparigas.

A biografia de Sotomayor é interessante e “inspirational”, como dizem os americanos. Mas quem foi o tal cardeal? Parece que tinha humor, porque é-lhe atribuída esta frase: “Passamos por três idades: a juventude, a maturidade e «Mas você está óptimo»”.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Reconciliação com Galileu

Em pleno Ano da Astronomia, a Santa Sé apresentou o seu programa de iniciativas para assinalar o ano da astronomia, centrado na figura de Galilei. Ler aqui. Mas a reconciliação ainda não estava feita? 

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Mais aproximação entre Igreja e média

D. Manuel Clemente pede maior convivência entre a Igreja e a comunicação social. A torrent informativa não permite assimilar todos os conteúdos e provoca distúrbios nas mensagens veiculadas. Uma situação que apenas se poderá resolver "conversando".

Na apresentação do Dia Mundial das Comunicações Socais, decorrido esta Quinta-feira, na Universidade Católica Portuguesa, o Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, assinalou que esta "falta de convivência é extensível também nos meios de comunicações virtuais".

"Podemos transmitir mensagens, mas a comunicação será sempre parcial. O tempo é limitado, havendo muitas mensagens que se sobrepõem dada a velocidade da informação". Este facto "não proporciona assimilação".

Segundo o também bispo do Porto, "o grande problema que se coloca, mesmo em termos de pastoral,  é como fazer desta imensa «massa» comunicativa, alimento de convivência partilhada".

O desafio para as comunidades e "até para as famílias", é criar oportunidade para "conversar sobre as questões mediáticas", aponta D. Manuel Clemente, referindo-se ao debate entre jornalistas que decorreu na tarde de Quinta-feira, que pretendeu reflectir sobre a presença da Igreja no palco mediático.

"Se não conversarmos vamos atrás de uma sensação de momento", sublinhou. Ler mais.

Inspirações - 1

Helena Matos, no Público de 21 de Maio: "A ética republicana é como o Espírito Santo: não se consegue explicar exactamente o que é, nunca se avista, mas acredita-se que opera milagres".

De vez em quando os comentadores usam metáforas, termos de comparação e apontamentos de ordem religiosa para desenvolverem as suas críticas. É um uso extrapolativo, obviamente, mas nem sempre indevido ou abusivo. Por vezes inteligente. E cómico. Pretendo dar nota dos que encontrar, sem juízos de valor. No caso citado, a comentadora do Público fulmina a ética republicana iniciando a sua crítica com uma referência ao Espírito Santo.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Verdade, costume e tradição

Tertuliano disse: "Cristo afirmou que era a verdade, não o costume". "Consuetudo" traduz-se por  "costume". Hoje, poderia ser "moda" (sugestão de Bento XVI, numa audiência geral de Quarta-feira) ou "o que está in". Mas não quereria dizer também "tradição"? Tertuliano disse: "Cristo afirmou que era a verdade, não a tradição".

O belo crítico


João Bénard da Costa morreu hoje, com 74 anos. Gostava de ler o que ele escrevia, desde “O Independente”. Mais tarde vi que tinha sido um dos católicos progressistas e que tinha ficado magoado com a ausência de referências contra a ditadura por parte de Paulo VI, a quando da visita a Portugal, em 1967.

Fez de Papa no filme de Manoel de Oliveira sobre o Padre António Vieira, “Palavra e Utopia”. Pareceu-me gostar muito desse papel.

Vi-o uma vez em Lisboa, numa conferência da paróquia de Santa Isabel. Ficou admiradíssimo quando o P.e Tolentino Mendonça afirmou que a tradução mais correcta de “o bom pastor” seria “o belo pastor”.

C.S. Lewis, o anglicano

Em “Surprised by Joy”, C. S. Lewis, convertido ao anglicanismo, escreve sobre Tolkien, que teve um papel importante na sua conversão: “A minha amizade com este último marcou a derrocada de dois dos meus velhos preconceitos. Na minha entrada no mundo aconselharam-me vivamente (de forma implícita) a nunca me fiar num papista, e na minha entrada na faculdade de Letras (de forma explícita) a nunca crer num filólogo. Tolkien era uma coisa e outra!” Citado por Michael Devaux, Communio, n.º 4, 2008.

Tolkien, o católico


Tolkien inventava línguas. As histórias eram secundárias. “Inventou as histórias para dar vida às suas línguas” (Michael Devaux). O “Quenya” e o “Sindarin” eram línguas dos elfos. Católico, traduziu em “Quenya” o Pai-Nosso e a Avé Maria.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

O melhor lugar para se avistar o Cristo Rei

Podemos estar sempre a vê-lo duma janela de casa, do corredor envidraçado do prédio onde trabalhamos, do alto da rua que entra nas nossas rotinas. Ou ao contrário: podemos só avistá-lo ao longe, ou de quando em quando, se nos calha andar por certos lados. Mas se perguntarmos: «qual é o melhor lugar para avistar o Cristo-Rei?», apercebemo-nos depressa que o lugar ideal, o que oferece um retrato mais fiel é sempre o coração humano. É verdade que há miradouros notáveis e horas e estações mais privilegiadas do que outras. Mas o essencial é invisível aos olhos. E o Cristo-Rei pede-nos para ser visto com o coração!

Tolentino Mendonça, na Ecclesia

terça-feira, 19 de maio de 2009

Papa para ti

O Papa está na Internet. Não só no sítio do Vaticano e no Youtube, mas também em www.pope2you.net.

Cruz Peitoral


Na montanha de Viñh Phú, num dia de chuva, tive de cortar lenha. Perguntei ao guarda:

- Posso perdir-lhe um favor?

- O que é? Eu ajudá-lo-ei.

- Queria cortar um pedaço de madeira em forma de cruz.

- Você não sabe que é severamente proibido ter qualquer símbolo religioso?

- Eu sei. Mas somos amigos, e prometo escondê-la.

- Seria extremamente perigoso para nós os dois.

- Feche os olhos, farei agora e serei muito cauteloso. Vá andando e deixe-me só.

Talhei a cruz e conservei-a escondida num pedaço de sabão até à minha libertação. Com uma moldura de metal, esse pedaço de madeira tornou-se a minha cruz peitoral.

Francisco Van Thuan in “Cinco pães e dois peixes”, Ed. Paulinas, pág. 55-56

Vidas que marcam: Francisco Van Thuan

Francisco Xavier Nguyen Van Thuan foi bispo de Nhatrang, de 1967 a 1975, e arcebispo-coadjutor de Saigão, a partir de 1975. Nesse ano, no dia 15 de Agosto, foi preso, pelos comunistas, e detido sucessivamente nas prisões de Saigão, Nhatrang, Saigão, Haipong, Viñh Phú e Hanói. Foi libertado a 21 de Novembro de 1988. Nomeado vice-presidente e mais tarde presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, morreria em Roma, no dia 16 de Setembro de 2002. O seu processo de beatificação está em curso.

É um mártir dos tempos modernos, embora o seu sangue não tenha sido derramado fisicamente. Os seus tempos de prisão e as palavras que de lá conseguiu fazer sair são exemplo arrastador das vivências mais profundas da fé cristã.

Bento XVI disse dele que "era um homem de esperança, vivia da esperança e difundia-a entre todos os que encontrava. Graças a esta energia espiritual resistiu a todas as dificuldades físicas e morais. A esperança sustentou-o como bispo isolado durante treze anos da sua comunidade diocesana; a esperança ajudou-o a perceber o absurdo dos acontecimentos - nunca foi julgado durante sua longa detenção -, um desígnio providencial de Deus”.

Francisco Van Thuan relata as suas vivências da prisão num livrinho que acaba de ser publicado em português: “Cinco pães e dois peixes” (Ed. Paulinas) – um extraordinário testemunho de fé, dirigido aos jovens, mas de leitura sem dúvida proveitosa para qualquer pessoa, em qualquer idade. O bispo conta como conseguiu comunicar com os seus diocesanos, através de 1001 folhas de calendário (lembrado as histórias das 1001 noites), como, sem Bíblia, apontou em pequenos bocados de papel as 300 frases do Evangelho de que se lembrava, em suma, como sobreviveu a 13 anos, nove deles em isolamento total, “terrivelmente longos”. Como ele próprio lembra, há um ditado vietnamita que diz que um dia na prisão é como mil Outonos fora.

Os cinco pães de que fala no livro são a esperança, a fé, a oração, o pão eucarístico, e o pão do amor. Os dois peixes são amor filial a Maria e o seguimento de Jesus. O testemunho do bispo vietnamita inspira-se no relato do cap. 6 do Evangelho de S. João, quando um jovem dá a Jesus cinco pais e dois peixes que servem para alimentar a multidão. Francisco Van Thuan “oferece tudo o que tem para que, através dele, o Senhor possa operar maravilhas”, escreve o cardeal Saraiva Martins no prefácio. Hoje, podemos provar do mesmo Pão através do testemunho deste “homem da esperança”.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Hereges

"Os hereges são queimados na fogueira. Também os afogam, denunciam, ignoram e enforcam.
Devia ter usado os verbos no passado. Já nada disso é verdade. Hoje em dia, os hereges são convidados para ir a Davos, ao Fórum Económico Mundial. Os hereges são eleitos para o Congresso. Os hereges fazem fortuna quando as empresas deles se tornam públicas. Os hereges não só amam aquilo que fazem como conseguem o seu jacto privado".

Seth Godin, in "Tribos. Precisamos de um líder"

domingo, 17 de maio de 2009

Faltou o escândalo

Pela serenidade das notícias, não deve ter havido nada [na viagem de Bento XVI à Terra Santa] que pudesse ser transformado, pelos grandes meios de comunicação social, num escândalo político-religioso. Dado o clima crispado que antecedeu a viagem, esta serenidade é um bom sinal.

Bento Domingues, Público, 17-05-2009

Porque não?

Porque creio nos milagres do amor, pergunto muitas vezes porque é que ainda não foi canonizado o Padre Américo, modelo de amor cristão, em generosidade sem limites, inteligente e eficaz, no quadro de uma pedagogia para a liberdade e autonomia.

Anselmo Borges, Diário de Notícias, 16-05-2009

Só há doze bispos no mundo. São todos homens e judeus

No início de novembro este meu texto foi publicado na Ecclesia. Do meu ponto de vista, esta é a questão mais importante que a Igreja tem de ...